Vida longa, vida breve
Ontem, dia vinte e um de agosto completou-se vinte e três anos da morte de Raul Seixas. Confesso que me lembrei da data por acaso, navegando no feicebuque, onde duas postagens me chamaram a atenção, pois me remeteram a uma idéia que há algum tempo me ocorre e por falta de inspiração nunca escrevi sobre ela. Uma das postagens fazia referencia à genialidade, à originalidade de Raul Seixas num tom de reverencia. A outra fazia uma crítica à forma como Raul viveu, uma vida regada a álcool e outras drogas e dessa forma tornou sua vida mais curta.
Esses dois pontos de vista sobre a figura de Raul Seixas me fizeram refletir sobre algumas questões: por que a maioria dos grandes gênios da humanidade morreram de forma tão precoce por envolvimento com drogas ou então cometeram suicídio? E mais: o que é melhor, viver uma vida breve, mas intensa ou uma vida longa, porém rotineira e entediosa? Eu, do fundo de minha limitação intelectual não sei responder a essas perguntas. Entretanto alguns fatos nos apontam para uma resposta que se não resolve totalmente essas questões nos dá algumas dicas.
Esses gênios que passaram pela vida assim como os cometas passam pelo céu são “profetas” no sentido de estarem à frente do seu tempo, por isso são solitários, tímidos, alguns até são depressivos. São pessoas que possuem uma alta sensibilidade, daí não suportam ou agüentam com dificuldades a vida com toda a sua carga de rotina, tédio, regras, convenções sociais, obrigações. Isso os leva a imaginar que pertencem a “outro mundo”. Talvez por isso procuram refúgio em alguma substancia que lhes permita sair dessa realidade que os perturba.
E óbvio que essas são apenas conjecturas pois a mente humana é bem mais ampla do que qualquer teoria que se arrisque explicar seu comportamento. Além disso, a obra produzida por esses grandes gênios possui um valor e uma significância para a humanidade maior do que qualquer crítica que possamos fazer a seus modos de vida. O fato de Raul ter sido um alcoólatra não reduz em nada obras de arte como “Ouro de Tolo”, “Tente outra Vez” e “Carpinteiro do Universo”, por exemplo. Por ter sido dependente de álcool, Garrincha não deixa de ser um dos mais geniais jogadores de futebol que o mundo já viu. Jimi Hendrix foi dependente químico, mas poucos tocam guitarra como ele tocou.
Logo, a questão principal não é vida breve e intensa ou vida longa e vazia. O mais importante é o que fazemos da vida agora. O que estamos produzindo, o que estamos "plantando"? Como seremos lembrados futuramente? Estamos valorizando a vida como ela deve ser valorizada, ou seja, como uma dádiva, um presente raro e perfeito? Ou apenas deixamos as coisas acontecerem? Parece-me que a pergunta mais importante não é como e quando morremos, mas como vivemos. Lembro-me agora do final do filme “John Carter” que assisti recentemente onde o personagem de mesmo nome do filme despede-se de seu sobrinho e diz-lhe: “se apaixone, viva, ame”. Isso sim importa.