“FESTAS DE AGOSTO, EM MONTES CLAROS, ANTIGAMENTE ERAM ASSIM MESMO...”

DENER VERSIANI KRÖGER*

Ah!...

E lá vou eu novamente. Desta feita, em uma rasante sob os arcos do saudosismo e pegando duas caronas ao mesmo tempo. Uma nas comemorações por ocasião do sesquicentenário da nossa cidade e outra em face de uma festa por mim vivida. Na infância. E bem infância.

Veio-me à memória, de forma tímida e tênue, algumas centelhas duma pérola ida, as Festas de Agosto, estas, de adultos em organização, e de crianças pelos reinados afora.

Estas festas tem um sentido profano e religioso, apresentando ao lado das missas e procissões um conjunto de danças e músicas.

Muitas vezes recuo tanto na minha memória que penso estar penetrando apenas no mundo da imaginação e dos sonhos, como quando por exemplo me pego agora lembrando de fatos de quando tinha quatro ou cinco anos. Quem sabe um analista possa dizer um dia o quanto estas minhas lembranças são reais.

Naquela época reverenciavam Dona Custodinha e seu irmão Manoel, reais representantes do Terno de São Benedito. E ainda, Chico Testa, Tião Taboca e Aníbal Carroceiro, chefes da marujada. Fechando o cerco, Mestre Zanza, do Rosário.

Granfinos só mesmo Valeriano e Domingos Lopes, Casimiro Colares e mais uns outros poucos. Gatos pingados.

Padre fenômeno “o dos dias atuais” mas, a festa que me deixou lembrançoso e provocou-me a atividade criadora para esta crônica foi comandada pelo Padre Quirino. Também à época, Padre Pedro que era chefe do seminário.

Uma boa festa, a qual tio Durval e tia Candinha foram mordomos do Divino, isto por volta de 1958 ou 1959. Eram eles grandes festeiros

Para esta realização tio Durval foi ao Rio de Janeiro comprar alguns adereços, dentre os quais um milheiro de lanternas coloridas.

Não deu outra. Ele fez uma farta distribuição das lanternas por todas as casas por onde passaria o cortejo. Desde a rua Padre Teixeira até a igreja do Rosário as janelas das casas foram decoradas com as mesmas. Também o percurso não era tão longo assim.

Ao contrário dos dias atuais, o cortejo saía sempre da Rua Padre Teixeira e adjacências, bem ali da casa de tio Alcebíades e tia Geninha, pais de Felisberto, e seguia para a Rua Justino Câmara. Virava à direita da casa de Geraldo Epifânio e não dava nem assunto para a Igreja da Matriz. Alcançava dali mesmo a Rua Dr. Veloso e rumava para a Igreja do Rosário. Esta sempre foi referência para a levantada de mastros e chegada dos cortejos. E a da Matriz para as celebrações.

Sinto-me na obrigação de lembrar alguns notórios moradores (ainda que torne esta crônica por demais enfadonha). Vislumbrava-se caminho afora por onde passaria o cortejo, as casas de Maroto. Dona Afra. Dona Gení. Manoel Caribe. Dona Marica – avó de Alfeu, este em frente Dona Gení. Dona Nair em frente Geraldo Epifânio. Juquinha Catinga Limpa, esposo de Dona Sinhá. Belo da Telefônica. Manin. Manezim Barbosa. Geraldo Pau Terra e Zé Gomes.

Pois bem, da casa de tio Durval fiquei assuntando a partida do cortejo, sentimento maior da religiosidade, coisa que eu como criança só me prestei mes mo a admirar o profano. Mais parecia um cordão de cores – como bem cita o Braúna e Pedro Boi em uma de suas músicas. Ainda muito pequeno e pelas mãos da minha mãe, só estava a alimentar um desejo irreprimível de saber pra onde ia toda aquela aglomeração.

Durante aqueles dias de festa, a cidade recebia grupos vindos dos arredores, aliás, isso ocorre até os dias atuais. A movimentação se dava pelas ruas ao entorno da igreja Matriz durante todo o dia. E parte da noite.

Hoje é a noite toda!

Seguimos o cortejo até a Praça da Matriz, por ali fiquei na casa de dindinha e Tia Ilda, na Rua Dona Eva. Até aquele local as ruas tinham calçamento, e a praça da Matriz era só terra. Algum tempo depois é que a calçaram com os tais bloquetes. Uma banda seguiu o cortejo e, foi a primeira vez em que vi uma banda de música tocar, esta, sob a batuta ou comando do Sargento Nadir. Sempre a ouvia treinando lá no beco de Geraldo Bento.

Não menos importante uma lembrança: em todas as janelas das casas por onde passava o cortejo, havia sempre alguém a oferecer biscoitos para os seguidores. Após o cortejo sempre tínhamos algo diferente na casa do Dr. Hermes e Dona Fina

Era tudo muito provinciano. E muito bucólico. A iluminação pública dava um tom de sumiço em torno das dez horas da noite e, concomitante a isto éramos presenteados com um belo firmamento.

Ah. Luar do sertão. Só mesmo o Catulo.

Não que, com esta reminiscência queira provocar regresso, mas imaginem só: Uma festa que há quarenta e tantos anos ainda permeia a minha memória (ainda que sem muita conexão), porquanto a de poucos anos já se foi ?. Quimeras no tempo.

O que poderia estar servindo de paradigma está servindo de paradoxo.

Finalizando, a qual cultura pertencemos? Como eram nossos antepassados? E que herança histórica teremos para contar a nossos filhos?

Não sei!

Mas com certeza esta lembrança vivida se perfaz em um elo, este, que nos dias de hoje mantém viva uma parte de nosso patrimônio cultural: a continuidade das festas de agosto.

*Bacharel em Direito, sócio honorário da Aclecia e católico.

DENER
Enviado por DENER em 24/08/2012
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