Viajando no azeite
" Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos" Aristótales
Nos distinguimos , pelo que sabemos, das demais espécies, pela capacidade humana de simbolizar, falar, imprimir registros e recriar a natureza de forma lírica. O jogo de linguagens e imagens é um passatempo delicioso, por ser desimportante, um exercício de quem aprecia dialogar com o conhecido, atualizando lembranças , possivelmente adentramos a memória arquétipa, embarcamos mentalmente na viagem encontrando os mitos, foi o que ocorreu outro dia quando ao azeitar a salada; deixei a mente vagar. Entregue ao momento das livres associações pelo paladar, cheguei ao afeto nutrido pelas viagens marítimas, no mar mediterrâneo, logo estava diante à deusa Athena, seus atributos e a narrativa da origem da espécie tida como sagrada, da qual extrai-se o azeite.
Passou-me a cena da disputa entre a deusa Athena e Poseidon pelo domínio do nome da nova cidade construída, na ilha de Ática, esta recebeu o nome da deusa, afinal ela ofereceu algo aos habitantes, bem mais útil que água salgada ofertada por seu oponente; Athena espetou sua lança, inseparável tal qual seu escudo e capacete, no solo e nele surgiu uma oliveira. Quem mais teria esta idéia, afinal além de proteger os guerreiros e orientá-los a deusa favorece a liberdade, sabedoria, paz, inspira e cuida dos filósofos e poetas, sempre atenta, tendo a coruja como companhia, seu animal preferido.
Imersa no verde oliva meu pensamento prossegue e ancoro em Lesbos, uma entre as espetaculares ilhas do mar Egeu. Porque Lesbos , ou Lesvos? Justamente por ter sido denominada Ilha Esmeralda devido ao farto cultivo de Oliveiras e por ter sua área quase que totalmente coberta de verde, cor que apesar de, ou por ser uma cor fria, tem propriedades curativas, favorável ao restabelecimento do equilíbrio do organismo humano.
O que poderia desejar na noite fria, a mais que um banho em uma fonte de água quente, de origem vulcânica em uma ilha repleta de ramos de Oliveira ? Como não vir a mente Virgílio "E com um ramo de oliveira o homem se purifica totalmente.".
Viajei no azeite, melhor naveguei sob a égide da deusa virgem como o líquido dourado, que atravessou mares, conquistou outras ilhas e consagrou-se em longínquos continentes como a raiz da língua grega.
Inebriada , sentindo-me “sarada” de quaisquer distâncias entre os sentidos, corpo e mente, retornei à refeição, logo após a qual ao braços de Morpheu entreguei-me.
Despertei sobre a folha de papel amassada onde havia rabiscado o lembrete ; registrar devaneios sobre o azeite de oliva.