Estão brincando comigo
                                                          

       

                                 Está acontecendo comigo o mesmo que sucedeu  com o impagável e erudito Paulo Francis. É verdade. Em um átimo resolvi não acreditar mais no ser humano, de modo geral, claro,  mas por favor ampliem ao máximo esse geral aí. Posso explicar e penso que os leitores hão de concordar comigo. Mas antes de apresentar minha estupefação, eu que já sou bastante assombrado de natureza, por uma questão de educação,  devo dizer o que ocorreu com  o Paulo. No livro dele, Trinta Anos esta Noite, em certo capítulo, ele nos narra: Foi num estribo de bonde depois de dias de leitura de um mélange de filósofos, cotejando suas idéias com as teorias de Primeira Causa de santo Tomás de Aquino e o argumento de que só a fé vale, que vem de são Paulo Apóstolo e santo Agostinho até Kierkegaard, que cheguei a conclusão da inexistência de Deus.  Sempre critiquei esse apressamento, essa ligeireza do Francis, que de um gole só, sem nem sentir o gosto da metafísica, jogou rapidamente todos os argumentos a favor de Deus ao vento, como quem joga uma caixa de fósforos vazia no chão do desprezo.  É possível que a mistura de filósofos e religiosos não tenha sido a mais adequada. Ou as doses foram  excessivas, possivelmente muito santo Agostinho e pouco Tomás de Aquino.  Ainda bem que neste coquetel não entrou o impenetrável  Kant. Porém, quanto mais vivo, entendo perfeitamente a atitude dele, depois de  poucos dias de leitura apenas, e tomando a sua decisão  no estribo de um bonde no Rio, local que sugere a dificuldade de equilíbrio por que passa o ser humano.  Pois não é que, tomando conhecimento de três notícias seguidas de absurdos tão grandes, chego à conclusão, em apenas três dias,   não ser mais  possível realmente levar  a sério o ser humano.
A primeira notícia me vem da internet informando que pesquisa científica descobriu que homens que traem as esposas e namoradas tendem a ter QI mais baixo e ser menos inteligentes. Mas que ilação mais estapafúrdia! Tive um amigo na mocidade, já casado, que instado pelos colegas a se manifestar por que razão não traía a mulher dele, deu a seguinte resposta, que nunca mais esqueci:  meus colegas, não traio minha esposa porque morro de preguiça só em pensar em me dirigir a um Motel, enfrentando um trânsito caótico. Mas o que mais me desanima mesmo é ter que tirar as calças e principalmente as meias, na verdade, colegas, lamento dizer, tirar as meias é que é o problema para mim.!  E pensar que este meu amigo está nesta estatística,  exemplo de um grande QI.  A segunda notícia veio do Fantástico,  mostrando médicos e profissionais da saúde  que estariam adotando o  tratamento chamado ortomolecular, ainda sem comprovação científica e, em alguns casos até  podendo colocar em risco a saúde das pessoas. Foi mostrado também, mas nesse caso o profissional não era médico, mas sim  um terapeuta,  ou coisa que o valha, informando à paciente que a avó dela, a mãe dela e a própria paciente estavam frequentando o espiritismo, pois estava vendo isso no  seu sangue,  para espanto de todos os  que estavam vendo a reportagem de  domingo, dia 21 de março de 2010. Ele estava vendo duas cores escuras, uma era a cor marrom, lembro-me bem, que, segundo o luminar, eram cores do ocultismo! Falar na infinidade de religiosos que fingem ser religiosos e daqueles que usam a religião para enriquecerem, não abala mais ninguém, portanto, nem levo mais em conta este tipo de notícia.  No entanto, minha amigas e amigos,  a terceira notícia desta semana que passou teve um efeito fulminante de terremoto ponto 10.0, combinado com tsunami e várias erupções vulcânicas em cima de mim. Não é que foi noticiado no jornal que um  Presidente de um país sul-americano iria pleitear o cargo de Secretário-Geral da ONU?!   Me estorço, me debato e grito, como fez Olavo Bilac: - então, é por isso que a ONU não funciona?  Pode uma razão pura compreender estes descalabros todos?  Com toda a compreensão do mundo, toda a tolerância possível e imaginável,  com toda a humildade,  por ora, minha crença no ser humano está suspensa para balanço.

                               Agora compreendo melhor a frase do grande Einstein, ao ser perguntado por que razão nunca se aborrecia com o ser humano. Dizia ele, com aquela tranquilidade de gênio: "Nunca me aborreço com o ser humano porque noto que as pessoas são muito inconsistentes!"



          Nota:   Tirei esta antiga crônica da gaveta por sugestão das minhas grandes amigas aqui do Recanto, Ariadne Cavalcante e Meire Boni. As duas notaram minha instabilidade emocional (espero momentânea) e me aconselharam a publicar uma crônica, como remédio para o meu espírito. Esta crônica foi lida por apenas 05 recantistas.
Gdantas