DEMOCRACIA ILÍCITA (Conselho de classe com a presença dos representantes de turma.)
Quarta-feira, o conselho de classe aconteceu, estava marcado, regozijei-me por não ser meu dia de trabalho. Sempre que posso, fujo desse momento antropofágico (ingestão do inimigo para apropriação de suas qualidades guerreiras). No qual, os representantes de turma estraçalham a moral, o profissional, até o familiar do professor, e o que mais lhe causar algum prazer. Os coordenadores que assistem, com uma falsa imparcialidade, anotam tudo, tudo talvez que eles gostariam de dizer aos seus professores, mas lhes faltava a coragem ou o bom senso não lhes permitia. Se “os canibais da reputação”, no conselho, se voltassem para os coordenadores pedagógicos já tinha acabado esse momento antropofágico! Ou não? Mas, o alvo rotineiro é falar mal de professor, dos colegas de classe e das instalações da escola, nunca vi nada diferente nesses muitos anos de sacrifício ritualístico. Para eles é o momento da vingança sem motivo, e os que falam incentivam os que não têm nada a dizer. Não sei por que ainda existe a presença de aluno no conselho, sendo que os coordenadores podem fazer relatórios a todo instante, e alunos podem denunciar a todo instante: tacape fatal! Talvez, perdura para descargo de consciência daqueles professores que contra-atacam vorazmente, justificando as tantas notas baixas. Que não é meu caso!
Todavia, houve até, entre os alunos, uma representante de classe, ainda insatisfeita porque eu não tinha ouvido o que falaram de mim, naquela quarta-feira, masntrando disposta a repetir a dose, então me interpelou nos corredores da escola no dia seguinte:
— Professor, o senhor vai está presente no próximo conselho? – disse-me com todas as palavras e expressões que me traduziam muita “fome” de vingança.
Eu gostaria muito de poder reproduzir nesta crônica as íntimas sensações imprimidas em minha pessoa em muitos conselho dos quais participei, em que os “críticos pedagógicos” (alunos) orientavam os seus professores a trabalharem “melhor” com eles, porém, convenceram-me que sou “incompetente” demais para ser o professor deles.
Numa ocasião dessas, ouvi o desabafo de uma colega:
— Os representantes de turma são os piores alunos da turma, infelizmente são escolhidos por eles mesmos!
Concordo com minha colega, contudo o problema maior é a falta de mutualidade. Como teremos estímulos para continuar suportando todas as formas de indisciplina; falta de interesse nos estudos por tantos alunos descompromissados, violência física e verbal; ainda ministrar boas aulas?
No Velho Testamento, os holocaustos eram oferecidos porque os fiéis permaneciam mal informados sobre Deus, e como resultado, agiam mal, Cristo os aboliu. Assim, faço minha as palavras de um comentário no blog da Glória Perez, falando sobre o Zeca da Novela Caminho das Índias, que educação é igual a futebol, todo mundo pensa que entende e quer dar opinião; aliás, na educação, não existe bastidores, quem sabe menos, sabe tudo. Eu penso que a verdadeira democracia educacional é o exercício do dever de respeitar a outrem. Dar voz para o tolo sempre foi o grande problema de Deus.