.:. Croniquinha dengosa .:.
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O chefe do poder executivo municipal está preocupado. O surto de dengue está crescendo e muitos já foram acometidos pelo vírus transmitido pela picada do mosquito.
As equipes foram distribuídas em muitos pontos, ações conjuntas contam com o apoio da população. A ordem é capturar os mosquitos e destruir os focos, mas a epidemia se avoluma.
Sexta-feira, final do expediente. Todos estão cansados.Na sala do prefeito, batem à porta:
– Bom dia, autoridade!
– Bom dia, Zé!
Sem cerimônia, Zé do Olhão retira da mochila um frasco com um mosquito enjaulado dentro, coloca o recipiente sobre a mesa e proclama:
– Pronto, chefe! Acabeicom o problema!
– Como assim, Zé? O que é isso aqui dentro? – Responde o prefeito, demonstrando preocupação.
– Não está vendo, doutor? Pegueio chefe dos mosquitos! Acabou nosso problema! Veja o tamanho do bicho! – Zé era o coordenador da campanha de combate ao mosquito.
– Tudo bem, Zé! Deixe aqui sua apreensão e pode ir.
– Com licença! – E se retira.
Depois que a porta foi cerrada, e o Zé saiu, veio a sentença:
– Tirem esse louco do projeto e o coloquem para vigiar a Praça das Cacimbas, agora!
– Farei isso imediatamente, senhor! – Responde um dos “aspone” [1] da autoridade.
– E tem mais: coloquem outro guarda para vigiar esse louco!
Coitado do Zé, na ânsia de ajudar, confundiu um “Mané Mago” com o almejado mosquito. Entretanto, para fins policiais de investigação, o dito cujo também responde pelas alcunhas de “Mané Cachimbo”, “Cabra Cega”, ou “Libélula”. Ajudem a procurar esses indivíduos e os apresentem ao Zé. A população agradece.
Seguem, anexas, algumas fotos dos meliantes.
Nijair Araújo
Juazeiro do Norte-CE, 30 de Dezembro de 2011.11h00min.
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Os poetas possuem um grande defeito: o de invadirem, intensa e profundamente, a vida dos outros sem que os conheça.
[1] Assessor de porcaria nenhuma.