O legado do sectarismo: o exemplo da LIBELU
Tudo o que é extremo é péssimo. Todo fundamentalismo, seja de ordem religiosa ou político-filosófico, é nefasto, pois torna a doutrina ou ideologia em um mero dogma. Enquanto a ideologia procura ou tenta dialogar com outros setores a sua visão ou perspectiva de mundo, o dogma parte de pressupostos inquestionáveis.
Assim, tudo o que há de extremo e de sectário não apenas na ótica religiosa, mas em todos os âmbitos, descamba para a torpe intolerância. Incluo, nesse ínterim, o sectarismo de certos setores de esquerda, que advogam, como "profissão de fé", a sua leitura como a única, a correta e a infalível. Mas ao longo da história, o sectarismo desdobra em duas situações, no mínimo, constrangedoras: em primeiro, o isolamento da organização política ou do militante que advoga tais valores sectários, sem eco popular. Ou o último, cedo ou tarde, o deslocamento de militantes, outrora de extrema esquerda, para o campo do conservadorismo ou da direita mais reacionária.
Poderíamos citar diversos exemplos históricos. Mas, para maior objetividade desta crônica, que diga a velha tendência trotskista Liberdade e Luta (LIBELU) nos idos do final da década de 1970 para o início de 1980. A LIBELU era o braço da OSI no movimento estudantil. De fato, foi ela quem foi a primeira organização a lançar o grito de guerra "Abaixo a ditadura", na queda do famigerado Regime Civil-Militar.
A LIBELU, sem dúvida, geraria grandes expoentes de esquerda que, tempos depois, se transformaram em quadros de direita ou reformistas como Demétrio Magnoli, Miriam Leitão, Reinaldo Azevedo (Revista Veja) e Antônio Palocci.
Como a vida dá as suas voltas...
Depois desse pequeno exemplo, prefiro ser antes um trabalhista sério, coerente e com comprometimento popular que um trotskista que, cedo ou tarde, flerta com a direita.
Antes ser tachado pelos extremos de "populista", defendendo o povo, do que a leitura dogmática, anacrônica e míope de setores residuais e isolados do marxismo que, mais tarde, "acosteiam o alambrado à direita", como bem afirmaria Leonel Brizola.
Incontestável.