Lembranças: dores de dente
Nem sei por que hoje me lembrava da minha infância que não foi muito boa do ponto de vista material. Talvez eu tenha me lembrado disso por causa da auto-piedade que insiste em me acompanhar, ainda que eu a despreze ou então seja o meu subconsciente querendo me dizer para eu não me preocupar tanto, para eu me aquietar, já que de onde vim para onde estou foi um longo, sofrido e vitorioso caminho. Então, eu “devia estar contente”.
Uma das lembranças foi sobre uma dor de dente impertinente e terrível que me afetava. Não sei se por descuido ou por falta de dinheiro dos meus pais, uma vez que morávamos na “roça”, eu não era levado ao dentista. Então me davam remédios caseiros como, por exemplo: alho, cachaça – da qual eu sempre tomava uns tragos e talvez daí tenha surgido o meu apreço pela caninha - para bocejar o dente careado e a seiva de uma árvore chamada gameleira. Lembro-me que quando me indicaram esse remédio eu ia até um pé de gameleira que tinha perto de casa sempre que meu dente doía e com um facão fazia um pequeno corte no tronco da árvore e com um pequeno pedaço de pano ou algodão, quando havia, eu aplicava a seiva da gameleira no dente dolorido. Alguém já ouviu dizer que seiva de gameleira cura dor de dente? Acho que não. Então nem preciso dizer que o remédio nunca funcionou!
E eu ficava sentado numa das raízes da árvore aplicando sua seiva no dente e chorava de dor. E quando eu percebia que o remédio não funcionaria voltava para casa desolado. O único medicamento do qual eu não desistia era a cachaça que funcionava não por que tivesse alguma propriedade analgésica, mas sim por que os tragos que eu tomava me faziam dormir e assim me livrar da dor.
Quando me lembro desses fatos, sinto certo orgulho. Hoje nunca sofrerei com dor de dente. A qualquer sinal de que há algo errado com minha saúde, tenho um plano de saúde que posso utilizar a qualquer momento.