VIAGEM AO MUNDO INTERIOR
Fiz uma viagem longa. Talvez a mais longa de toda minha vida, e confesso ainda não ter chegado a lugar nenhum. Não sei se peguei a estrada certa, ainda não vi nenhuma placa. Só uma vontade grande de chegar. Às vezes o caminho está escuro e não tenho nem a lua para me guiar; às vezes o sol nasce e parece que vou chegar. É uma viagem intensa para dentro de mim. Não defini ainda o que quero encontrar, mas é mais complexo que se possa imaginar.
Por que será que a solidão está tão aflorada se estou cercada de pessoas ao meu redor? Esta solidão que dói... Ah, redundância, que solidão não dói? Talvez a ferida esteja doendo mais em mim que nos outros seres humanos que apresentem este mesmo diagnóstico. Quanto egoísmo! Não sou o centro do Universo. Não é tão difícil conscientizar-me disto. Mas, minha sensibilidade está aflorada, sinto-me merecedora de voltar-me para mim mesma. De novo, egoísmo. Ou talvez não seja... Talvez necessidade de auto-conhecer-me. Encontrar-me comigo mesma. Qual o tempo que me foi dado para que isso fosse possível? Não me lembro. São sempre colocados fatos, e pessoas e nunca consigo parar para pensar só em mim. Meu pensamento contínuo... Onde está o botão da pausa? Por que tantas dificuldades de abertura sentimental, de tornar sonoras minhas palavras, de expor o verdadeiro eu? Pensar, não em mim, mas no que o outro vai pensar de mim? Pensar se vou ferir, se vou interferir, se vou excluir, se vou incluir, vou tornar permanente, se é sim ou é não. Pensar se é o que quero ou se é o que o outro quer. Quanto dilema... Como não interferir no livre arbítrio do outro se estarei conectando minhas palavras prodigiosas do meu eu, a fim de fazer-me entendida, sem que o outro se faça entendido... Diálogo... Peça falsa que se enraíza e faz toda minha verdade se desmantelar. Há...há... Jogo íntimo de palavras desconexas do sentimento da importância. Impotência do ser! Blasfêmia!!! Eu não acredito em mim, eu não acredito no outro. Somos seres que fazem o jogo da conveniência. Psique-dramáticos.
E vou seguindo a vida, a encenação, o palco, as luzes acendem, apagam, a viagem continua... E vou cada vez mais fundo. E a distância só aumenta.
A chegada, não sei quando... Viagem sem fim. Conhecer-me, mera utopia. Conhecer o outro, impossível. Somos chamados ao descontentamento do fingimento da vida social a todo segundo. É uma representação constante.
Atenção: Luzes, câmera, ação. Gravando.
Karina Araújo Campos
Belo Horizonte, 22 de agosto de 2004.
16h47min