A mão que afaga não é a mesma que coça

É com grande satisfação que recebo de presente uma “mãozinha coça-coça” em modelo mais aperfeiçoado, com calçador de sapatos na outra extremidade, um dos grandes atributos do produto, demonstrando a excelência da ciência moderna.

Em meio a tantas bobagem tecnológica que se inventa hoje em dia, o coça-coça é legalzinho porque tem utilidade: serve para coçar as costas e a bunda. O meu agrega valor com o calça-sapatos. Por parte do consumidor, é divertido ter um coça-coça, principalmente em se tratando de um sujeito aposentado cuja quase única atividade é coçar os ovos, sendo, portanto, a pessoa indicada para usufruir das reais vantagens do produto. Para o mais perfeito aproveitamento de sua funcionalidade, recomenda-se conservá-lo em lugar estratégico, perto da rede ou pendurado no prego, na sala, para expulsar eventuais visitas inoportunas. Ao vê-lo coçando-se com tanta sofreguidão, a visita tratará de dar no pé, com medo de possível contágio de doença da pele.

O coça-coça é igual ao meu título de eleitor: de uma indispensável inutilidade. Ainda assim, é melhor ganhar um coça-coça do que um Monitor portátil de raios UV. Seu idealizador informa que esse equipamento promete trazer informações a respeito dos níveis de radiação UV e calcular o tempo que uma pessoa pode ficar exposta ao sol. Outro belo presente seria um tira-tampa elétrico, ou mesmo o chinelo elétrico para massagear os pés. Compadre Ameba ganhou uma calça com olho na bunda que pisca quando se anda. Quem, em plena sanidade mental, compraria um troço desses? Esse meu amigo gostou do presente. Faz o maior sucesso em festas infantis e mata de vergonha os filhos e netos.

O coça-coça serve para coçar, obviamente, e mais: ótimo para mexer com quem estiver próximo, para enfeitar a parede nua, para calçar os sapatos apertados e para cavar buraco de siri na praia. Seu idealizador planeja a criação de novos produtos, entre eles um Desentortador de bananas e o Espanador da Lua. Meu amigo Sonsinho, do alto de sua alta inteligência, planeja lançar o CD completamente sem música e sem ruídos, ideal para quem quiser gozar uma horinha de pleno silêncio nesse mundo tão barulhento.

No futuro, a humanidade terá consciência do valor desses inventos. Eu, pelo menos, dou graças ao meu coça-coça acoplado ao calçador de sapatos. Estou barrigudo e perco o ar toda vez que tento calçar. Invenções como essas constituem grande homenagem à falta do que fazer.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 23/08/2012
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