COM A CABEÇA NAS NUVENS

Dizem que não era pra ser assim.

Mas é assim: tem dias que me pego nas nuvens. Não, não é só a cabeça nas nuvens, é o corpo todo. Acontece quando leio um bom livro, faço alguma coisa que gosto, almoço um prato gostoso em boa companhia, vejo um filme legal, ouço "aquela" música. Fico assim, anestesiado, de bem com a vida, achando tudo uma perfeição, como se fosse uma elaborada construção superior. Saio do metrô e passeio levitado pela Paulista. Ou pego a estrada e vou inflando com a brisa na cara, as árvores, o céu azul. Ou então chuva como quem toma sorvete.

Parece, sim, coisa de quem está apaixonado, com a cabeça cheias de algodão doce. Nesse caso, sou taxativo: as nuvens estão todas ali, dentro de minha cabeça.

Elas não são sempre disformes? Eu também...

Elas não formam os mais estranhos animais do nosso imaginário?

Dentro de mim também é assim: tá cheio de animais de diferentes espécies, pelos, penugens, cores e odores, formatos e tamanhos.