O NELSON QUE EU GOSTO É  "SAFADO" MESMO...
Por Carlos Sena


 
Se Nelson fosse vivo era IN. Um dia ele foi OUT. Se Nelson vivo fosse era Excêntrico, depois de passar a vida toda (quando não era famoso) sendo mal educado, pornográfico, debochado. Falo de Nelson o “RODRIGUES” – aquele que escreveu “BONITNHA, MAS ORDINÁRIA”, “O BEIJO NO ASFALTO”, “SETE GATINHOS”, “NOIVAS DE COPACABANA”, etc. Os falsos moralistas, hoje, já o absolveram. Certamente perceberam que quando se fala da natureza humana não se podem ter papas na língua; quando se fala da alma humana, menos papa ainda tem que ter a língua. Na verdade “papas na língua” é coisa de hipocrisia de uma sociedade que se finge de moderna ma, a rigor, não se livrou do ranço preconceituoso que a sexualidade mal resolvida proporciona. Podemos dizer que Nelson foi um homem do seu tempo com todas as formalidades, mas que fez da informalidade dos sentimentos o seu maior trunfo para desnudar as convenções sociais, o falso moralismo e outros ismos de tudo quanto eles podem significar de castrador da felicidade humana. Ele foi ao intimo das pessoas ricas sendo pobre, ao intimo dos intelectuais se passando por rude, ao intimo da sexualidade sendo apenas conhecedor do sexo ortodoxo, papai com mamãe como tudo leva a crer. Mas, porque conhecia a lógica ortodoxa do sexo, rompeu com ela e adentrou em seus mistérios. Mistérios que se dissolvem entre ricos e pobres, entre altos e baixos, entre negros e brancos, entre zona sul e zona note, movidos pelas pessoas quando se apaixonam. Ou mesmo sem ser apaixonadas, mas buscando desafios do seu interior amargurado por falta de pegadas na cama diante das pegadas que a vida faz, nem sempre emocionalmente corretas. Corretas? – Eis a questão! Nelson rompeu com o politicamente correto. Preferiu, talvez o “RETO” sem “CO”- responsabilidades. A irresponsabilidade dos amantes talvez fosse pra ele o elo de permanência do afeto. Ao que tudo indica, era temente a Deus e ao amor. A Deus por natureza, ao amor por avareza. O amor parece mesmo ser avaro em sua dimensão de posse e por isto é possível que se nutra em seu domínio visceral, escatológico.
Cem anos de Nelson na terra é um milênio de avanço na sexualidade marginal, se assim se queira ver o lado bom do rompimento dos paradigmas por ele lançados. Nelson, em cada texto, em cada romance, colocava na “mesa” a vida como ela “NÃO ERA”. Dito diferente, Nelson colocava na mesa a vida nua... Como que querendo dizer que, de posse da vida nua cada um cozinhasse ao seu modo e ao seu tempo e tempero. Depois dele a vida intima passou a ter outro viés. Algo tipo: “dentro de quatro paredes vale tudo” (?)! Talvez por isto ele tenha dito algo mais ou menos assim: “se a gente visse tudo que se passa COM O OUTRO no quarto quando está fazendo sexo, não tivesse coragem de falar com mais ninguém” (grifo meu)... Portanto, mesmo não sendo ele Psicólogo nem Psicanalista (não sei se foi) muito contribuiu para o avanço dessas áreas no sentido prático da vida.
Particularmente, “PERDOA-ME POR ME TRAIRES” é uma das suas obras que mais gosto. Depois, O BEIJO NO ASFALTO e AS NOIVAS DE COPACABANA...