PAPO DE ALMOÇO
Assuntos pessoais não se misturam aos profissionais. Desde ontem, porém, um processo que estou a ler trouxe-me uma ideia “ao trapézio”. Aliás, duas. Uma que me levou a publicar uma frase sobre “amor e ódio”; outra sobre emoções despertadas pelo que se lê, ouve, vê ou sente-se por algo ou alguém.
O que é pessoal deve ser confidencial. Daí o “segredo de justiça” no direito de família. Mas, na ação penal (privada) ele também se faz presente. Por esta razão não permiti que meu irmão soubesse além do que traz a capa dos autos: agressão, ameaça {...} violenta emoção. Mas João se prendeu a estes dois últimos termos e me instigou a dizer-lhe: melhor saber sobre emoções elevadas.
Por emoções elevadas entendo o amor em todas as suas manifestações, desde o desejo genuíno de amor afetuoso, ao amor por nossos semelhantes, ao amor a Deus. Entendo o amor, o júbilo, o encantamento, a esperança, a raiva sincera e indignada, o senso apaixonado de justiça e injustiça, a honra e a desonra, e a crença real em qualquer coisa: pois a crença é uma emoção profunda que tem a conivência do coração. Todas essas, hoje, estão mais ou menos mortas. Pusemos em seu lugar a contrafação espalhafatosa e sentimental das mesmas emoções.
Nunca houve uma era mais sentimental, mais desprovida de sentimentos secretos, mais exagerada em sentimentos falsos do que a nossa. O sentimentalismo e a contrafação dos sentimentos tornaram-se uma espécie de jogo, em que cada qual procura superar o seu semelhante. A televisão e o cinema são meros simulacros de emoção o tempo inteiro. A imprensa e a literatura de hoje também. As pessoas, - como diria nosso pai - chafurdam em emoção: a emoção falsificada. Elas lambem a emoção como os cães; elas vivem dentro da emoção e na emoção.
Às vezes, elas parecem conviver bastante bem com tudo isso. E cada vez mais sucumbem. Elas se desfazem em pedaços. Nós podemos enganar a nós mesmos sobre os nossos sentimentos por muito tempo. Mas não para sempre. O próprio corpo devolve o golpe, e bate sem um pingo de remorso no fim.
João me olhava sério e silencioso. Então, lhe disse para concluir:
- Ande, termine de almoçar, para irmos embora.
http://www.youtube.com/watch?v=PMHSbklAMuM
____________
Almoço hoje, no Restaurante do Ministério Público/DF
Assuntos pessoais não se misturam aos profissionais. Desde ontem, porém, um processo que estou a ler trouxe-me uma ideia “ao trapézio”. Aliás, duas. Uma que me levou a publicar uma frase sobre “amor e ódio”; outra sobre emoções despertadas pelo que se lê, ouve, vê ou sente-se por algo ou alguém.
O que é pessoal deve ser confidencial. Daí o “segredo de justiça” no direito de família. Mas, na ação penal (privada) ele também se faz presente. Por esta razão não permiti que meu irmão soubesse além do que traz a capa dos autos: agressão, ameaça {...} violenta emoção. Mas João se prendeu a estes dois últimos termos e me instigou a dizer-lhe: melhor saber sobre emoções elevadas.
Por emoções elevadas entendo o amor em todas as suas manifestações, desde o desejo genuíno de amor afetuoso, ao amor por nossos semelhantes, ao amor a Deus. Entendo o amor, o júbilo, o encantamento, a esperança, a raiva sincera e indignada, o senso apaixonado de justiça e injustiça, a honra e a desonra, e a crença real em qualquer coisa: pois a crença é uma emoção profunda que tem a conivência do coração. Todas essas, hoje, estão mais ou menos mortas. Pusemos em seu lugar a contrafação espalhafatosa e sentimental das mesmas emoções.
Nunca houve uma era mais sentimental, mais desprovida de sentimentos secretos, mais exagerada em sentimentos falsos do que a nossa. O sentimentalismo e a contrafação dos sentimentos tornaram-se uma espécie de jogo, em que cada qual procura superar o seu semelhante. A televisão e o cinema são meros simulacros de emoção o tempo inteiro. A imprensa e a literatura de hoje também. As pessoas, - como diria nosso pai - chafurdam em emoção: a emoção falsificada. Elas lambem a emoção como os cães; elas vivem dentro da emoção e na emoção.
Às vezes, elas parecem conviver bastante bem com tudo isso. E cada vez mais sucumbem. Elas se desfazem em pedaços. Nós podemos enganar a nós mesmos sobre os nossos sentimentos por muito tempo. Mas não para sempre. O próprio corpo devolve o golpe, e bate sem um pingo de remorso no fim.
João me olhava sério e silencioso. Então, lhe disse para concluir:
- Ande, termine de almoçar, para irmos embora.
http://www.youtube.com/watch?v=PMHSbklAMuM
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Almoço hoje, no Restaurante do Ministério Público/DF