Só nos resta a saudade
(Alexandre Gonçalves Borges - 04.05.1964 + 09.02.1999)
(Texto publicado no Diário da Tarde em 30/3/1999)
(Alexandre Gonçalves Borges - 04.05.1964 + 09.02.1999)
(Texto publicado no Diário da Tarde em 30/3/1999)
Não vamos particularizar a dor, mas refletir um pouco sobre ela. A violência urbana ou violência nossa de cada dia tem tirado de nós, abruptamente, nossos filhos, sobrinhos, irmãos, amigos numa infindável sucessâo de dor e lágrimas. Sem aviso prévio ou permissão para a honrosa defesa de nossas vidas, somos, por decisão unilateral de nossos algozes, mortos de forma fria, covarde na insensível selva de pedra urbana. Incompreensível é a inspiração e mais ainda a futilidade que determina quem deve morrer e quando. Temos como certeza única a morte, mas queremos ter a certeza da vida, embora sabendo difícil os seus caminhos, a aventura de percorrê-los.
Nascemos, crescemos e vivemos na esperança de que cada um de nós possa realizar em si, ainda que imperfeitamente, o amor, a verdade, a beleza e a justiça, apesar de os nossos olhos estarem se fechando para a alegria, mortos pela dor do nunca mais. Só conseguimos verdadeiramente ser, quando somos efetivamente ser para o outro. A ética nos ensina que o homem é um ser- para-si sem deixar de ser um ser-para-o-outro, o homem é um ser para-o-outro sem deixar de ser um ser-para-si.
Os olhos da humanidade têm-se fechado para a conquista verdadeira do amor incondicional, que traz em si o milagre da vida, que é feito da paz, em nós e no mundo. "O inferno são os outros" já dizia Sartre.
Temos, entretanto, que dar um "berro e um basta" a tudo que seja separação, cisão, e olhar o mundo, a Natureza e cada um de nós como seres únicos, que transformaram a vida e dão significado ao seu tempo.
A dor não pode e não deve ser mais o ponto de encontro, de união e reunião de nossos sentimentos e mazelas humanas - aquele lugar onde todos são iguais. Não percebemos ainda, caminhantes de um novo milênio, que não existe vitória unicamente individual - somos seres históricos, inexistimos como biografia pura. Hoje mais do que ontem, amanhã mais do que hoje, devemos curar a nossa egolatria, afastar-nos de nosso egoísmo e caminhar sem medo e culpa para a realização de nosso ser e felicidade temporal.
O nosso ato de pensar, de querer, de desejar, de amar, de sentir e de criar deve buscar e encontrar sempre o outro, contemporâneo nosso que também necessita de trabalho, moradia, educação e saúde, e que também quer, ele próprio ser coadjuvante na construção de seu tempo e do mundo.
Chega de dor, chega de lágrimas e lares destroçados pela fúria homicida de uns. Não queremos mais ver o sangue daquele que amamos e o nosso próprio ser um número a mais nas estatísticas policiais, um troféu nos índices da criminalidade nacinal.
Quem sabe um dia possamos reconhecer e aceitar da filosofia sua autoridade de Mãe e Mestra, e substituir o atual "Matai-vos uns aos outros pelo mandamento básico "Amai-vos uns aos outros".
Roberto Gonçalves
Nascemos, crescemos e vivemos na esperança de que cada um de nós possa realizar em si, ainda que imperfeitamente, o amor, a verdade, a beleza e a justiça, apesar de os nossos olhos estarem se fechando para a alegria, mortos pela dor do nunca mais. Só conseguimos verdadeiramente ser, quando somos efetivamente ser para o outro. A ética nos ensina que o homem é um ser- para-si sem deixar de ser um ser-para-o-outro, o homem é um ser para-o-outro sem deixar de ser um ser-para-si.
Os olhos da humanidade têm-se fechado para a conquista verdadeira do amor incondicional, que traz em si o milagre da vida, que é feito da paz, em nós e no mundo. "O inferno são os outros" já dizia Sartre.
Temos, entretanto, que dar um "berro e um basta" a tudo que seja separação, cisão, e olhar o mundo, a Natureza e cada um de nós como seres únicos, que transformaram a vida e dão significado ao seu tempo.
A dor não pode e não deve ser mais o ponto de encontro, de união e reunião de nossos sentimentos e mazelas humanas - aquele lugar onde todos são iguais. Não percebemos ainda, caminhantes de um novo milênio, que não existe vitória unicamente individual - somos seres históricos, inexistimos como biografia pura. Hoje mais do que ontem, amanhã mais do que hoje, devemos curar a nossa egolatria, afastar-nos de nosso egoísmo e caminhar sem medo e culpa para a realização de nosso ser e felicidade temporal.
O nosso ato de pensar, de querer, de desejar, de amar, de sentir e de criar deve buscar e encontrar sempre o outro, contemporâneo nosso que também necessita de trabalho, moradia, educação e saúde, e que também quer, ele próprio ser coadjuvante na construção de seu tempo e do mundo.
Chega de dor, chega de lágrimas e lares destroçados pela fúria homicida de uns. Não queremos mais ver o sangue daquele que amamos e o nosso próprio ser um número a mais nas estatísticas policiais, um troféu nos índices da criminalidade nacinal.
Quem sabe um dia possamos reconhecer e aceitar da filosofia sua autoridade de Mãe e Mestra, e substituir o atual "Matai-vos uns aos outros pelo mandamento básico "Amai-vos uns aos outros".
Roberto Gonçalves
Escritor