NOBEL EQUIVOCADO. OPINIÃO DE UM INTELECTUAL.
Celso,
Ao que Saramago chama de "neomedievalismo" do Papa decorre também de um antagônico "neopaganismo" que coloca Deus (o mistério do Absoluto), "sob terrível suspeita" ou descrença.
E quando se coloca o Absoluto, sob suspeição, como faz o escritor, é um "minus" atribuir-se a alguém um "absoluto cinismo intelectual".
Estranha o nobel português que o Papa invoque Deus, "que ele jamais viu, com o qual nunca se sentou para tomar um café".
Ora, não é preciso ter visto Deus para invocá-lo.
Di-lo S. João, "Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único de Deus, que está junto ao Pai, foi quem nô-lo deu a conhecer" (Jo, 1, 18)
A chamada visão beatífica, na teologia católica, designa uma visão integral de Deus, no pleno esplendor de sua majestade, acessível apenas aos eleitos, mas após a morte, afora a possibilidade de não ver com os olhos, é ver-se com o coração, com a inteligência (o Logos) e com a fé, -- e "fomos ensinados que Cristo é o unigênito de Deus e proclamado que ele é o Logos, a quem todas as raças têm acesso...”
Aqueles que vivem segundo o Logos são cristãos, mesmo que possam ser classificados como ateus -- como Socrátes e Heráclitos e outros como eles..." ( Alister E. McGrath, Teologia Sistemática, histórica e filosófica, p.50)
José Saramago, se lesse parte dessa obra, e ao saber que pode ser considerado cristão, ou ficaria pasmo ou teria que explicar ao Partido, ou se seu processo de conversão pessoal estiver iniciado -- estará salvo...
Mas como afirmar que a Igreja não se importa com o destino das almas e sempre buscou o controle de seus corpos, como afirma na entrevista ?
Seria desídia com a alma e controle do corpo o sacrifício de S. Estevão (o primeiro cristão apedrejado), o dos lançados às feras no Coliseu, cujos corpos dilacerados ainda invocavam os hinos em louvor a Deus; os mártires, como o Pe. Maximilan Coubert e Edith Steine, mortos no Campo de Concentração; as Virgens e um incontável número da soteriologia da Igreja.
O próprio Sócrates já teria essa noção de supremacia da alma sobre o corpo, no Fédon, ao dizer que somente os filósofos autênticos a tinham, no exercício da filosofia que consiste em libertar a alma, separando-a do corpo.
A heresia do cristão José Saramago é que precisa ser combatida ao dizer que a Igreja não se importa com o destino das almas.
Pery.
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Pery, como vc sabe, a suspeição depende de provas, ao menos indicativas da parcialidade possível e, nesse terreno, do absoluto, nada há como provar, como bem diz você, “é ver-se com o coração, com a inteligência (o Logos) e com a fé, e "fomos ensinados que Cristo é o unigênito de Deus e proclamado que ele é o Logos, a quem todas as raças têm acesso”, e esse acesso nos permitiu Tomás de Aquino endossado por Padre Franca e tantos outros pelo fenômeno da causalidade que tomba sob os sentidos do homem medianamente inteligente.
E o “logos” precisa ao menos dessa inteligência mediana.
Seu libelo opositor, vendo um “cristão” no ateísta, fundado em razões irrespondíveis – visível a quem possui mínimo logos – implica e basta acrescentar o agnóstico Kant, gênio da filosofia, para dizer com ele, “Deus é”, não precisamos demonstrar “O que é”.
É a entronização de “pensar Deus”, que a dialética kantiana deixou livre e admitida.
E pelo mesmo caminho do “Logos”, se rejeitamos o criacionismo, é verdade dizer, pelas mesmas razões, que podemos rejeitar o evolucionismo, ambos indemonstráveis; procura-se até hoje o epicentro do Bing Bang e outras origens vedadas à inteligência, o surgimento da vida e a formação do pensamento, este que entendo como alma, imaterial, imortal e pertencente à eternidade.
“Mas como afirmar que a Igreja não se importa com o destino das almas e sempre buscou o controle de seus corpos, como afirma na entrevista ?”, é uma pergunta que associa o estado de inteligência de um Nobel às qualificadoras a que me referi antes.
Penso que o “portuga” estava com inveja do ateísta Dawkins que mais vende livros hoje na Europa.
De qualquer forma cortei e arquivei sua excelente dialética. E vale lembrar o desrespeito do “Nobel” ao chamar Deus e Abraão de FDP. Foi a única maneira de ser conhecido, depois de muitas obras recusadas pelos leitores, quem nem mesmo pontuação usava em conflito com a gramática, com a qual teve sérias dificuldades como péssimo aluno que foi. Pensamentos soltos e aproveitáveis qualquer um tem, até mesmo ditadores genocidas tiveram, é diferente do conjunto da obra.
Abr. Celso