50 CONTO
As pessoas só vão entender o que é amor quando entenderem que amar não é sentir; é conviver.
- Manel, tu nunca vai casar não? Me perguntaram.
- Não. NUNCA! Respondi.
- E a solidão, Manel?
- Sem pró. Não se preocupe. Sempre vou ter “50 conto” pra dar a uma puta.
- E você acha justo comprar a companhia, o amor e o sexo de uma pessoa.
- Não, não acho. E não vou comprar a companhia de ninguém. Apenas quero ter o direito de mandar fulaninha ir embora na hora que eu enjoar dela, sem que pra isso seja necessário fazê-la sofrer. Ah, e “50 conto” é muito barato pra não fazer ninguém sofrer.
- Mas "50 conto" por dia vai sair caro: serão "1.500 conto por mês".
- Que nada. Pior é gastar "20 mil paus" numa festa de casamento e pagar sua mulher te chifrando com outro cara que gasta uma passagem de ônibus para comê-la.
- Quer dizer que seu medo é o de ser corno, Manel?
- Não. Esse é o medo de toda espécie macho.
- Quer dizer então que o amor virou mercado.
- Sim. Virou. Mas aqui não se trata de amor. Muito menos de sexo. Até porque não estou comprando prostituição, estou apenas economizando uma porrada de sofrimento.
- Sai dessa, cara! Amar é tudo.
- E é? Então porque estás aí solteira. Porque teu marido te trocou por outra?
- Filho da puta, Manel, é isso que você é: um tremendo Zé Buceta de Merda!
- Entenda, prefiro pagar prostitutas que posso expulsá-las de minha casa a hora que eu bem quiser a jurar amor eterno sem ser capaz de amar. Antes "50 conto" todo dia pela felicidade de uma puta diferente à ter uma única mulher o dia todo infeliz a vida toda. Não estou comprando nada, apenas trocando a infelicidade de uma pessoa pela felicidade de um monte de gente: a minha e a das prostitutas.
- Você deveria ir direto para o inferno, Manel.
- Raquel, você Ainda quer um inferno maior do que esse?
Qual inferno?
- Esse: o da falsidade do amor.
- Tomara que você nunca se case mesmo, seu traste.
É... Tomara. Pois me contenta muito mais ver um cabaré animado do que ver minha casa afogada na tristeza.
- Infeliz.
- Ou não. E chega de papo!
Entre a tristeza de quem me ama e a felicidade de quem me faz gozar, sem dúvidas prefiro a segunda opção.
O problema é que, hoje em dia, as pessoas querem as duas coisas ao mesmo tempo. E isso é impossível.
Ora, a vida é a arte da escolha. E escolher não é uma arte muito fácil. É a velha estorinha, não se te tem como assobiar e chupar cana ao mesmo tempo; não se tem como rir e chorar no mesmo momento.
Pois é, entre o sofrimento da minha filha e o prato de comida na mesa da filha da puta, prefiro o feijão com arroz.
Não sou devasso, só não aprendi a ser certinho. Ainda bem!
Ou não. E chega de papo!