INTOLERÂNCIA...
Ganhei de presente o livro “Coração”, já na quinta edição em português. Gosto mais de presentear do que ser presenteado, mas de pronto vi que acertaram o meu gosto com pouca moeda.
Avidamente, pelo faro, abri o que me agradaria mesmo que fosse em parte. Acertei. São quatrocentos e trinta folhas de reflexões em partilhas e por temas, numeradas e listados os verbetes, quase salmos, guardadas as proporções.
O livro, de Helena Roerick, cuja biografia fui buscar, é objeto de estudos da série Agni Ioga.
“Heart” no original, realmente toca o coração. Tocou o meu de pronto, na primeira folheada. Leio então “a dureza do coração não é outra coisa senão uma condição de falta de cultura”.
Não concordei muito com a proposição, que é impositiva, como posta, quando os elementos da equação lançada levam à relatividade. Por vezes pessoas aculturadas são extremamente duras em tudo, inclusive pelos caminhos do coração, dando-se o contrário com pessoas incultas.
Me impressionou uma singeleza que encerra muita verdade, logo em seguida discorrida: “A intolerância pertence a mesma família de abominações que aviltam o sagrado vaso do coração”.
Quanta verdade em tão restrito período. Daria para escrever um tratado. Quanto tenho sido intolerante, reflito.Temos muitos defeitos por mais que burilemos o aperfeiçoamento.
Se não chegamos à compreensão, etapa dificílima, compreensão de tudo, até do desamor de quem teria que ter amor, estamos sendo intolerantes, estamos na mesma seara de desamor. Mas diriam alguns, como faz minha mulher, “nada disso, não posso ser benevolente, compreensivo e tolerante com traços baixos de personalidade”.
Sei lá, digamos assim, sou bastante mole de coração, e ela embora seja pessoa boníssima, diz que sou melhor do que ela. Ela é suspeita...
Penso, contudo, mergulhado em mais rigor de conduta pessoal, embora não possa por vezes exercer, que deve ser essa a postura, se amamos incondicionalmente e falamos de amor ao próximo, devendo ser assim, mesmo àquele que distribue desamor, devemos amar, portanto, a todos, com seus defeitos e qualidades.
É um ato de contrição que, entendo, se não fazemos e observamos, ficamos devedores do implacável tribunal da consciência. Não falo de ter ódios, ressentimentos ou coisas que tais, baixas e ignominiosas, falo de intolerância e reações exacerbadas ao que não aprovamos.
É um ponto para grandes reflexões estando nossa evolução como pessoa em débito com a tolerância. Posturas erradas aos olhos mais atentos decorrem de compreensão incorreta da evolução das leis que regem íntima e externamente nossas condutas.
Dá-se o mesmo com o espaço onde vivemos, a Terra. A mesma lei que orientou o planeta em suas mudanças na era glacial não pode ser paradigma atual.
Se assim fosse, o caos que já não é pouco tornaria impossível a sobrevivência. Relativamente ao ser humano, verdade dizer, qualquer convívio sem aprofundamento de avaliação reflexiva, resulta em gigantesco desgaste. É o que vemos ocorrendo.
Ao visibilizar Buda em meditação lhe foi perguntado se era Deus ao que respondeu negativamente. Afirmou então que somente achara um meio de viver em harmonia e paz nesse mundo de conflitos e sofrimentos. E esse estado de “estar desperto” como ele definiu envolve iluminação que pressupões amor incondicional.