"Não estacione. Garagem."
Quando eu era pequena via indicações como esta e passava um bom tempo tentando interpretá-las. Nunca chegava a um quociente razoável, o que me fazia acreditar ser uma questão insolúvel, um paradoxo da humanidade. Se 'garagem' foi criada com o único intuito de se estacionar, por que então chamar aquele espaço de garagem? Sim, porque se havia o pedido de não estacionar era pelo fato daquele espaço não ser usado como garagem, afinal garagem... Além disso advertências se fazem necessárias quando se trata de algo atípico, eu calculava."Não estacione. Garagem”. Voltava à morfossintaxe das palavras e sempre recaía no mesmo paradoxo. E se a garagem era sua, dentro da sua casa, porque solicitar a outrem que não estacionasse??! Aquilo não fazia sentido algum!
Ao contrário: revirava o sentido simples das palavras! Eu deduzia que aquela expressão fazia parte de um mundo surreal do qual eu não tinha nenhum interesse em participar. Era loucura e pronto. E o fato da loucura ser exposta não implicava em participação de todos. Eu acreditava haver esgotado os significados possíveis da expressão, embora sempre que a avistasse me dava ao trabalho de repetir todo o raciocínio. O mesmo acontecia com a advertência afixada próxima ao motorista de ônibus: "Fale ao motorista somente o indispensável". Naquela época a palavra 'indispensável' ainda não havia sido incorporada ao meu vocabulário, o que me remetia à sua análise morfológica: "que não pode ser dispensada"; "dispensar = resolver". Isso me fazia concluir "Fale ao motorista o que ele não puder resolver"! Deus do céu, que loucura! Não deveria ser "Fale ao motorista somente o dispensável", o que ele puder dispensar, solucionar???!!
Hoje chega a ser agradável perceber que algumas coisas são mais simples do que eu acreditava. Muito mais.
Quantos paradoxos ainda irão se revelar extremamente lógicos?