"O MEXERICO"
             O Jornal Oficial do Reino de Gorobixaba

               

AMIGOS DE VERDADE


Nunca fui boa em crônicas. Acho que intimamente sempre preferi mostrar meu lado alegre, feliz e realizado em um todo. Mas estava aqui pensando: "Vai que o tempo passe sem que eu tenha a oportunidade, ou lembrança, de agradecer aos meus amigos da importância que exercem sobre a minha vida atual?" Seria uma lástima, eu uma jornalista integrante de um Reino como o de Gorobixaba, deixar de expressar o quão grata sou aos meus amigos DE VERDADE!
Nunca tive inimigos! Também, quem precisa deles? Meus amigos têm se esforçado com afinco nesse árduo papel!
Meus queridos amigos! O que seria da minha vida sem eles? Tenho aprendido (confesso que com muita relutância!) a dar valor às pequenas e mais simples coisas.
Tenho aprendido, por exemplo, que a ganância não é vista pelos bons olhos de Deus. Para quê ganhar bem se com o pouco que ganho consigo sobreviver com o básico à existência humana? Não preciso de um carro novo para ser feliz! Aliás, nem de um carro preciso!... Estarei ecologicamente contribuindo para a não poluição do ar, além de economizar nos impostos e na manutenção do mesmo. Basta-me uma carona nos conversíveis do patrão, na carruagem de cristal da sua terceira mui amada esposa e caminhar a pé, o que me fará muito bem, já que as longas caminhadas são um exercício de altíssima importância à nossa saúde física e mental.
A gula também foi definitivamente banida entre meus pecados. Tenho aprendido que a marmita foi inventada para ser usada. Restaurantes caros, comidas boas, duas refeições e dois lanches é puro desperdício! Não tenho perdido horas preciosas de trabalho durante aqueles velhos prazeres que afinal só me engordavam! Cá estou, mais uma vez, economizando na academia! Tenho sido mais cuidadosa também com coisas que outrora sequer dava importância. Gastava fortunas com absorvente higiênico e agora descobri que o papel higiênico substitui numa boa esse supérfluo! Também foi maravilhoso descobrir o quão lindos são meus cabelos ao natural: branquinhos como a neve! E as unhas? Salão? Hidratantes? Perfumes caríssimos? Sapatos e bolsas novos? Roupas de grifes? Nem pensar! Passar horas cuidando do meu visual está totalmente fora de cogitação! Tenho ficado maravilhada com a minha capacidade de sobrevivência! E tudo isso graças aos meus amigos.
São eles que têm colocado a minha fé em prova! Nunca rezei tanto! É verdade! Agradeço a Deus todas as noites pelo dia que Ele me concedeu o pão de hoje que dividirei para o amanhã; pela paciência por aguentar o mau-humor do meu patrão, ao qual tenho dado muito recebendo tão pouco em troca, isso se chama irmandade, compreensão dos valores e fazer o bem sem olhar a quem.
Meus amigos também têm me ensinado a ser perseverante. Quando chego perto da minha benção, lá vem eles e me tiram o tapete! Tudo bem que caio, me ferro, fico chateada... Mas são eles que me estimulam: "Continue tentando, HERMINOVA! Um dia você vai conseguir! Você é capaz!" Ah, meus amigos! O que seria de mim sem eles? Tão monótona seria a minha vida! Tudo seria uma pasmaceira cor-de-rosa!
Falando ainda em pasmaceira, a minha felicidade é plena e absoluta quando a Rainha se lembra de mim! Quão bondosa esta criatura quando gentilmente me envia para os confins europeus! Fico excitada só de imaginar as frias que vou ter que encarar com meu amadíssimo amigo luso, esse então, nem se fala! Tem-me ensinado à duras penas a dar valor à minha quase finda paciência! Quando penso que estou no limite, descubro que vou aquém de minhas próprias forças!
É por essas e outras que ultimamente tenho dado muito valor ao "eu" quase esquecido por mim. Agora, mais do que nunca, entendo quando falaram dos lírios do campo que não tem roupa ou vaidade e são felizes por simplesmente existir.


                            
HERMINOVA ROHENINSKY.