Velhas lembranças
Hoje cedo, deparei-me com algo maravilhoso: o amor florescendo em uma esquina.
Ele estava sujo em uma esquina, sentado, cabisbaixa, mas passou um carro de som: " Ah! se já perdemos a noção das horas..." , Ele ergueu a cabeça, com um lindo sorriso estampado no rosto... Entrou em um estágio de transe, levantou-se lentamente como um gato que almeja atacar um pássaro e seguiu, nesse ritmo, calçada a fora. Braços estendidos, olhos voltados para cima como criança que brinca de caminhar com as nuvens e se foi...
O sinal abriu, dei partida no carro, mas o engarrafamento me ajudou a curtir aquele momento de êxtase dele. Quando a música terminou, ele recostou-se na parede e escorregou por ela. Parei e o olhei nos olhos, duas lágrimas caiam-lhe sobre um rosto sofrido e amargo. Baixou a cabeça e começou a riscar no chão com o dedo.
Novamente dei partida, mas minha mente ficou para trás a pensar que amor ou destino teria levado aquele homem àquele estado de sofrimento e dor, apenas aplacado ou despertado pela música.
Diante dessa imagem, senti um velho perfume que vez ou outra invade meu mundo... Só aí compreendi que lembranças são como fogo, sempre há uma brasa escondida nas cinzas.