Tudo azul
Comprei uma carteira nova para mim.
Comprar besteirinhas se tornou uma ótima opção para substituir o hábito de comer besteirinhas. Agora prefiro economizar os Reais que se tornariam quilos em minha barriga. Perambulo de lá para cá e encontro as mais diferentes maravilhas “camelóticas”. Um tirador-de-bolinha-de-roupa, porta-trecos, canetinhas coloridas, uma carteira por 15 Reais.
Ela é azul e grande, com um fecho discreto. Oferece-me milhares compartimentos para eu preencher com todas as coisas desnecessárias de que eu tanto preciso.
A minha antiga carteira até que estava legal. Era resistente, de couro, mas tinha coraçõezinhos coloridos estampados. Aqueles desenhos começaram a me dar raiva, dado que o meu coração não batia tão colorido assim. Aposentei aquela felicidade irritante no armário e me comprei uma carteira azul e simples.
Organizei cuidadosamente a coleção de cartões que recebo de tudo quanto é loja, agora moram no bolso de botão do lado esquerdo.
Cartões, dinheiro, identidade, CPF, notas de compras que eu não lembro mas “é bom guardar”, uma passagem de ônibus para Petrópolis, um bilhete de cinema, uma figurinha do "Anjo" que recebi em 2009 de um amigo.
Mexer nessas coisas é tão pessoal, tão eu.
Terminei a brincadeira e fui mostrar minha nova aquisição a minha mãe.
- Você vai colocar seus documentos?
- Tira os cartões.
- Ninguém anda com dinheiro!
- Deixe só o básico...
Triste realidade do Rio de Janeiro que não deixa nem que as carteiras andem pesadas e cheias. E tudo aquilo tão pessoal vira excesso. Ainda assim deixo que tudo continue lá. Faço sinal da cruz antes de sair de casa, sento no lado do corredor no ônibus, só abro a bolsa em lugar fechado e ando atenta, neurótica, paranóica e feliz! Com todos aqueles pedacinhos de mim devidamente organizados em uma simpática carteira azul.