HORA MARCADA
No tempo em que meia noite era mais tarde, tudo era mais difícil na vila, as luzes de maracujá acendiam-se assim que a noite estendia sua cortina de breu, sobre o verde oliva da vila.
As crianças brincavam sob a aura da pequena lâmpada afixada na conclusão do poste de madeira rústica. As brincadeiras eram herdadas pelos pais e avós, que ensinavam antes das estórias, que acalentavam ou perturbavam os sonos e sonhos infantis. Havia uma diversidade de insetos que voavam ao redor da lâmpada do poste, mariposas e besouros eram insetos de grande porte comparados a infinidade de bichinhos voadores que chegavam atraídos pela luz. O besouro rola-bosta era o mais atraído pelas crianças, na sua aterrissagem, eram colhidos por mãozinhas sujas devido a construção de montinhos de areia no pé do poste, faziam um furo estreito e fundo no monte e o sepultava vivo. Várias mãos alisavam a areia acariciando-a até ficar lizinha e sem ondas. Olhos observavam o monte inerte, o tempo suficiente para que os primeiros grãozinhos de areia escorregassem no tobogã de areia, sinal que o bicho vinha vindo lentamente, rompendo as barreiras da morte, brotando das profundezas do inferno. E assim seguia a brincadeira, repetidas vezes... até que o aviso era dado, era hora de entrar, a brincadeira havia chegado ao fim, as luzes se apagavam e acendiam, uma duas vezes, como piscar de olhos, este era o sinal de que era hora de lavar os pés e as mãos para dormir, que as luzes se apagariam definitivamente.
E o breu da noite era tingido apenas por luzes alaranjadas das lamparinas a querosene que iluminavam as casas pobres da vila.