O ERMITÃO

Vivo só, mas sozinho não estou

Transformo tudo e todos em parceiros

Para espantar a minha dor!

Quando eu escrevo não é para me mostrar,

É uma forma de exercitar o falar

Por isso não me preocupo

Com o que o escrito vai mostrar!

Os cavalos são irmãos, é certo que de vez em quando me jogam no chão

As vacas são minhas parceiras, minhas confidentes!

Com elas afloram muitas lembranças

As galinhas as buliçosas. Que me faz lembrar-se de humanas criaturas deixadas para trás. Entre elas não existe considerações. É cada uma por si, e tome bicadas!

As pombinhas, ah! Essas são umas gracinhas. Representam as crianças. Sempre brincando e comendo. A imprudência é o seu forte. Fazem ninhos em qualquer lugar, mesmo tendo o tucano a espreitá-las e os seus ovos roubar!

Os pássaros pretos, experti em cantar, formam orquestras de encantar e empurram todos os males para lá!...

Os gaviões, lindos e perigosos, assim como a vida. Em cada descida uma alma é extraída!

Araras, Maritacas e Papagaios, parece torcida quando o jogo acaba!

As árvores que frutos e sombras me dão me tornaram mais amigão. Chego mesmo nelas trepar e ainda reclamo, esbravejo, quando caio - Vocês têm que aprender a melhor me tratar! Por que essa agora de me derrubar?... Onde já se viu? Estou somente querendo de deus me aproximar!

Outro dia, fazendo uma arrumação, telhas velhas tirei de um lugar. Fazia montinho de sete e carregava daqui para lá. Numa determinada viagem uma pequena cobra saiu dentre as telhas, escorregou pelo meu peito e correu para se entocar.

Contando o episódio, logo quiseram saber:

_ “você matou a cobra”?

_ Não. Não sou executor; sou condutor, e ela ainda me pagou!

_ “Pagou o que? Como”?

_ Não me picou!

Falo com os postes e também com os mourões do meu quintal.

Com os postes agradeço as lâmpadas que seguram para me iluminar!

Os mourões servem para eu me encostar e lamentar!

A planta dá-lhes comida e bebida. Todo o dia tem que molhá-las. Em retribuição elas me apresentam os beija-flores e me enchem de perfume.