Repensando o conceito de Pai

O que vou escrever aqui, provavelmente, causará alguma polêmica. Ao mesmo tempo em que acredito que muitos poderão concordar com este posicionamento. Em tempos de "Dia dos Pais", venho problematizar o modo como nos referimos a esta palavra: PAI. Procurando no "Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1993)", verifiquei que pai significa: (1°) "homem que deu ser a outro(s), que tem um ou mais filhos" e diz também (2°) "aquele que exerce as funções de pai".

Geralmente, vejo que, na cultura brasileira, temos a tendência de interpretar essas duas definições como sendo a caracterização de um pai. A segunda definição, penso que é aceitável; porém, a primeira, no meu ver, está equivocada. Digo isto porque, considerando o que a ciência nos diz, ao definir o homem como um ser pertencente ao reino animal, penso que qualquer animal tem a capacidade "de dar ser a outro(s), tendo um ou mais filhos" e nem por isso ser considerado como pai. Quando essa consideração acontece, é porque está se atribuindo, pejorativamente, essa denominação.

A primeira definição atribuída pelo minidicionário pode muito bem se encaixar no conceito de "reprodutor". Procurando novamente no Aurélio, o mesmo diz que reprodutor significa "animal reservado à procriação". Aqui sim, estamos chegando a um consenso.

Dessa forma, o que venho questionar neste artigo é o seguinte: como é que posso chamar de pai aquele homem que vê na relação com uma mulher um mero ato de prazer, que, por algum acidente, acaba por gerar uma nova vida? Como posso chamar de pai aquele homem que abandona a criança que gerou e nem sequer dá sinal de vida a ela? Como posso chamar de pai aquele ser que mata o seu próprio filho? Não, não concebo essa possibilidade.

Pai é aquele "que exerce a função de pai". Pai é aquele que cuida, que ama, que educa, que brinca, que briga, que ensina, que aprende, enfim, Pai é aquele que está presente na vida do "ser" por ele gerado. E, quando falo isso, não digo apenas aquele ser gerado biologicamente, mas gerado vitalmente. E aqui faço outras perguntas: como chamar de padrasto aquele homem que aceita uma mulher viúva e a ajuda a cuidar de sua criança? Como chamar de padrasto aquele homem que acolhe com amor sincero e fiel aquela mulher que cuida seu filho sozinho, porque o seu "companheiro" a abandonou? Não, a estes não devemos chamar de padrastos, mas, sim, de Pai.

Sei que pode parecer confuso tudo que apresento aqui, mas não pude deixar de me posicionar. Que neste Dia dos Pais, cada pessoa possa repensar realmente sobre essa palavra e ver quem realmente pode receber as parabenizações não só neste dia oito de agosto, mas em todos os dias e poder escutar a merecida felicitação: Feliz Dia dos Pais.

*Publicado originalmente no site do Jornal Agora (Rio Grande/RS) <http://edicoesanteriores.jornalagora.com.br/site/index.php?caderno=27&noticia=84576>. Data: 07 ago. 2010.