Ana e Penina
Ela se arruma, enquanto limpa os olhos furtivamente. Mais um ano se passou e tornará a ver sua parentela sem um filho nos braços.
Sabe que todos que se encaminham para a cidade e o templo, naquela época, esperam pelas novidades e a apresentação dos novos membros das famílias. Só a dela não aumenta.
Sabe-se afortunada por não ter recebido carta de divórcio, após aqueles anos todos de humlhante esterilidade, mas nada a consola.
Um marido apaixonado não pode animar seu coração enquanto ela não puder ter um filho.
Penina, sua rival, cercada de crianças é uma afronta, mesmo que o coração do marido a escolha sempre em detrimento da outra com sua barulhenta ninhada.
Ao se reunirem pra jornada, ela se sabe motivo de observação não só entre as servas e os vizinhos, mas principlamente diante do olhar jocoso de Penina.
É uma tortura que ela recebe em silêncio evitando queixar-se afinal, aquilo é problema de mulheres e o pai não a quererá mesmo em casa. Nada resta-lhe a fazer, senão abaixar a cabeça, trincar os dentes e caminhar debaixo do escaldante sol com a família inteira.
Chegam ao templo, cumprem suas obrigações e mais tarde visitam os parentes.
No outro dia retornam ao templo e ela chora desconsolda encoberta por uma coluna. O sacerdote a vê e abençoa. Ela se anima e sai.
Na hora da refeição, o marido leva pra ela porção dobrada de tudo e não a deixa esmorecer.
Porque tu choras? Eu não te sou melhor do que dez filhos?
Ela se comove com a solicitude dele e se aquieta.
Lá fora, todos se reúnem e reiniciam a viagem de volta.