O Mensalão, o IDEB e a Eleição
Em 27 de novembro de 2009 a Polícia Federal executou a operação Caixa de Pandora. Era mais um capítulo do mensalão. No mesmo ano sai o resultado do IDEB,e o da minha escola não foi nada animador. A nota? A pior do município. E as consequências para a equipe? Vergonha, pânico, desespero, acusações, insônia, choro, boca amarga! Era primeira vez que a escola participava de uma avaliação externa. Mas foi uma ótima oportunidade para visualizar a qualidade pedagógica. No ano 2011 ultrapassamos em 40% a meta estipulada pelo MEC. Ufa que alívio.
O IDEB vem acontecendo desde 2007, o mensalão foi denunciado pelo deputado Roberto Jefferson em 06 de junho de 2005. A maioria dos acusados de participar do mensalão não temos certeza se serão punidos. Temos leis confusas, cheias de brechas. O mensalão é mais um exemplo de corrupção, consequência, acredito, de uma sociedade que parece dormente quando o assunto é má índole de políticos e empresários. Dormente ou sem senso crítico porque grande parte ou maioria absoluta dos políticos envolvidos em corrupção não saem do cenário do poder. Como? Estamos em época de eleição e o povão, a massa, parece estar alheia aos noticiários, às denúncias.
Quem aprecia e estuda sociologia entende que há uma diferença entre massa e público. O público, pode –se definir, de maneira resumida, é mais inteligente, esclarecido; as massas (o povão, multidão) de uma maneira mais prática de explicar, são movidas pelas paixões, comoções influenciados pelos meios de comunicação, mais precisamente, pelos apresentadores de TV.
Refletindo sobre o número de público e massa, pode-se concluir que a escola não está sendo capaz de formar público, já que a massa é em número maior, tão maior, capaz de aderir, cimentar, perpetuar uma política paternalista e corrupta.
Mas é compreensível porque os educadores são incapazes de contribuir para formação de cidadãos críticos e reflexivos. É só observar os recursos da maioria das escolas públicas: saliva, giz e quadro negro.
Aliás, o educador que lê, que procura conhecimento e tem tempo para assimilar, decantar o que aprendeu, consegue transmitir com mais propriedade, através de estratégias e metodologias, os conteúdos do currículo contemplando, com sucesso, a heterogeneidade que compõem uma sala de aula, afinal todos somos diferentes e temos formas peculiares de aprender.
No entanto, quantos livros o professor de escola pública pode comprar por mês? E quando pode comprar, quanto tempo tem disponível para ler, já que as correções de avaliações, planejamento ocupam seu final de semana? Ir ao cinema, museu e teatro quantas vezes por mês? O educador de escola pública não é agraciado com alternativas diversas para enriquecimento cultural e de conhecimento, a não ser aquelas jornadas “chatológicas” intituladas de pedagógicas que as secretarias de educação promovem uma vez ao ano que não se aprende nada em oito horas de falatório de um pedagogo lá dos “cafundós” que desconhece a realidade do município, mas que o professor tem que engolir de goela abaixo, caso contrário levará falta nesse dia.
Depois a imprensa faz um verdadeiro “fuzuê “quando sai o resultado do IDEB, comparando uma escola com a outra, como se tudo dependesse do professor, do coordenador, do diretor.
A escola neste século tem muito a se ocupar. A sociedade põe a mesma como a salvadora da pátria ou a grande culpada. Por conta disso, foi-se o tempo em que os professores só precisavam dominar o conteúdo. Hoje o educador tem que saber as técnicas de autodefesas, (professor morto não aprende técnicas pedagógicas) psicólogo para intervir na família do aluno (aquele que falta a aula, desrespeita o professor e bate nos colegas, perde em todas as unidades em todas as disciplinas) advindo, muitas vezes, de ambientes hostis, convivendo com alcoolismo, violência, e todos os tipos de exploração.
Nesse contexto o aluno não aprende, consequentemente, repete o ano ou evade. É garantido por lei que o aluno permaneça na escola e aprenda, o contrário, a escola é a incompetente ou irresponsável. Dessa forma, de tudo a escola tem que fazer: realizar visitas, fortalecer parcerias com o Comissário de Menor, realizar palestras enaltecendo valores morais, sociais porque em seu ambiente materno o discente não recebeu limites, e além de tudo isso, de forma nenhuma a escola pode desviar do conteúdo, o IDEB está a espreita, muito cuidado.E quanto à avaliação? Do Conteúdo? A pedagogia sugere que a escola avalie o aluno em todo o seu contexto cultura, social, econômico, respeitando os limites e ritmo de aprendizagem do educando. O leitor percebeu a teia de aranha que o professor está?
Nessa salada, os educadores necessitam de argumentos, metodologias, estratégias capazes de despertar no aluno o gosto pelo conhecimento. Bonito não é? Só que o educando tem acesso ao seguinte ambiente educativo: sala de aula: quatro paredes, carteiras e o professor na frente sentindo-se uma criatura mal vestida, mal alimentada (não pode compartilhar da merenda do aluno, lembra do cuscuz alegado? ) exausto, tendo que trabalhar três turnos para sustentar a família, reclamando do salário, do tempo que não tem para a família e das doenças adquiridas fruto de uma jornada de trabalho estressante: dor no estômago, dor de cabeça, depressão, insônia, ansiedade, calo na garganta, etc.
Para quem recebe uma péssima nota no IDEB por aqui, "a coisa é feia," nem adianta o diretor ou coordenador saber que o resultado do IDEB é um conjunto de tudo, é toda a escola encabeçada pelos órgãos gestores. Escola boa tem quadra, tem internet, tem uma boa biblioteca, tem recurso, tendo isso, cabe aos professores, coordenadores e diretores (família é importante) usar as “ferramentas.” Quando não tem, a escola é obrigada a dar “nó em pingo d’agua.” O mensalão e outros esquemas de corrupção tiram esses recursos da escola. O curioso é que as secretarias, as prefeituras e a imprensa acusam e massacram o professor, o coordenador e o diretor. O Brasil podia alcançar a média em 2011, dos países desenvolvidos, o tão sonhado e perseguido 6.0 não fosse a corrupção que impera no país.
Luz Ribeiro, 18 de agosto de 2012