RAINHA DEPOSTA, PEBLEIA REINANTE
O palacio está iluminado, tochas estão acesas em todos os pátios e os servos andam correndo com muitas bandejas. Na cozinha, a azáfama é grande com muitos cozinheiros preparando especiarias para agradar ao soberano, reconhecido na época como o mais poderoso da terra.
Ele é temido, amado, odiado, mas sem rivais no mundo de então.
Tem poder de vida e morte sobre os súditos, mas é conhecido por sabedoria e não truculência.
Na sala do banquete, na verdade um quadrilátero central na cidadela que lhe serve de palácio, os provadores estão a postos atrás do rei, experimentando cada prato artisticamente decorado que lhe chega à mesa.
Todos estão alegres, o vinho corre solto, dançarinas se contorcem, instrumentistas, cantores dão o melhor de si pra a agradar ao que é conhecido como senhor de senhores.
A certa hora, já tomado pelo excesso da bebida, ele manda o eunuco chamar a favorita. Só ela tem título de rainha no seu harém.
Louvada pela beleza e ricamente adornada em sua prisão dourada, ela comete o desatino, de se recusar a acompanhar o enviado do rei.
Ele teme o só dizer ao rei dessa rebeldia. Volta emudecido e pálido para a sala de banquete.
O rei ouve abismado, seu semblante muda e o silêncio se instala ao seu redor e vai crescendo em círculos até alcançar a sala toda. Centenas de homens estão ali, enviados de outros países, embaixadores, ministros, sacerdote, mestres de cerimonia, e o rei sente os olhos postos em si.
Seu assessor pessoal, o único que ousa tomar a palavra, depois de elaboradas mesuras, segreda ao rei que algo precisa ser feito e logo, diante de todos, afinal aquilo é uma subversão, uma total inversão dos valores vigentes.
O rei levanta-se e calmamente diz ao eunuco que a rainha está deposta e que seja encerrada no calabouço. O ar volta a circular e as conversa são retomadas, com apoio ao rei.
Novas expedições são feitas para escolher moças que venham ocupar aquele vazio, já que das outras moradoras do harém, nenhuma é desejada como rainha pelo poderoso senhor de todas as terras.
São submetidas a tratamentos cosméticos especiais, aulas de etiqueta e uma infinda linha de normas e requisitos que deverão preencher para, numa possibilidade de vir a ser escolhida pra uma noite qualquer, corresponderem ao que é esperado delas.
É quase um cadastro de reserva.
Uma das pebléias é levada em meio a várias outras belas e recatadas donzelas.
E passado todo o ano de preparo, ela é a escolhida, após minuncioso preparo. Esconde sua origem e se torna a rainha não só naquele mundo fechado onde elas habitam, mas também no coração do rei, que a ouve e faz-lhe favores.
Seu nome: Hadassa – na sua língua, ou Ester – na língua dos persas.