Pitacos da Merô

 
Uma das melhores coisas trazidas pela maturidade é a compreensão de que não precisamos nem dependemos de ninguém para expressar nossa opinião, sem medo de aborrecer um ou outro. Assim é que ultimamente ando muito petulante expressando minhas idéias sem nenhuma preocupação com o que possam ou não pensar de mim. Quando eu era bem jovem já fazia isso, atirando para todos os lados, pouco me lixando para quem fosse atingido. Depois fiquei mais cordata, preocupando-me com o efeito que minhas palavras pudessem provocar. Mas agora de novo volto a ser livre atiradora, mas a maturidade ensinou-me que para isso não preciso ofender a ninguém. Mas, se alguém se sentir ofendido, paciência. É só mostrar que estou errada que me redimo. Afinal essa é uma das qualidades que adquiri com a maturidade – a certeza de que mudar de idéia é uma atitude inteligente quando compreendemos que estamos erradas.

Dia desses, lendo um texto, deparei-me com a expressão Brasil, um país grande e bobo. Não consigo me lembrar onde, nem quem a cunhou, mas vira e mexe me vejo repetindo essa expressão. E imagino um menino que cresceu demais, tamanho de um homem, com as calças pega frango e cara atoleimada de quem cresceu tanto que nem sabe o que fazer com as pernas e as mãos. É esse o meu país e embora eu sinta uma ternura enorme por esse meninão me dá também uma grande vontade de lhe dar uns cascudos.

Esse menino bobão está transformando as sacolinhas plásticas que embalam os produtos que compramos ou vendemos nos grandes vilões contra a natureza. Não posso negar que o uso indiscriminado das sacolinhas é realmente um absurdo, mas faço uma pergunta e o meninão não sabe responder – Quando é que vão parar com as embalagens plásticas que já saem direto das indústrias? O arroz que compro vem em um saco plástico, também o feijão, o leite, vários iogurtes, sal, açúcar, uma infinidade de produtos. Não é tudo plástico? Apesar de saber que é lento ainda acho que a educação pode fazer a diferença – mas quem tem tempo para educar? Por aqui ainda não proibiram, mas o uso das sacolas é irracional. Paro em frente ao Caixa com minhas compras e observo o empacotador – ele vai pegando os produtos, coloca dois ou três em uma sacola, mais dois em outra, mais quatro e assim quando acaba eu tenho quase tantas sacolas quantos produtos comprei. E então lá vou eu desempacotando tudo e embalando de forma mais racional e em vez de sair com seis sacolinhas meio vazias saio com três cheias. E a Caixa e o empacotador ficam olhando para mim como se eu fosse um ser de outro planeta. E isso é só uma das coisas que o Meninão bobo anda fazendo.

Todo cidadão tem direito a uma educação e cabe ao Estado direcionar esse acesso. Todos têm direito a desenvolver suas potencialidades, os poucos dotados, os médios dotados e os bem dotados intelectualmente. Menos os 3% de bens dotados – essa minoria agora vai ter que se matricular em escolas públicas se quiser entrar em Universidades Públicas. E como todo mundo sabe como anda o ensino nas escolas básicas públicas, essa minoria excepcional em vez de progredir vai regredir. Antes de fazer uma bobagem dessas deveria sim, ser obrigação ter um ensino público de qualidade, com professores bem formados, bem pagos e em condições reais de ensinar. Vão fazer como aquela autoridade mineira que para resolver o problema da repetência acabou com ela, por decreto.

Outra coisa ridícula é o retorno da obrigatoriedade de diploma para ser jornalista. Nunca vi uma coisa tão sem nexo. Desde quando é possível dotar alguém de talento para o jornalismo em uma escola? Aqui nas Alterosas, outra profissão sofre dessas exigências descabidas – a de decorador. Desde quando bom gosto se aprende em escola? O caso é que, se existem coisas que só se aprendem fazendo, outras para fazer é preciso primeiro aprender. O bom senso tem que funcionar de vez em quando pelo menos, mas o pobre meninão é pau mandado de um grande corporativismo. Jornalista só poder ser quem tem diploma, decorador idem, mesmo que conseguidos em escolas sem nenhum valor é o mesmo que exigir diploma de Curso Superior para Presidente da República. Mas será que pelo menos um diplominha de ensino médio não seria uma boa exigência para vereador?

Depois de uma longa noite escura, saio para jantar com amigos. Tranquila, a dona do Bistrô onde vamos tem Curso Superior de Gastronomia.