Déjà vu
Não sei se acordei ou se permaneço dormindo. Não sei se o relógio parou ou se o tempo nunca passou. Não sei se o dia é dia ou se a noite é noite porque na verdade desde que comecei a pensar que já me disseram que era assim e pronto, nunca na verdade quis correr a procura da verdade e faço verdade, as verdades dos outros...
Não sei se é tempo de sorrir ou de chorar, se o gás acabou ou se nunca existiu. Não sei nem se as coisas saíram do lugar ou se sou eu que nunca estive aqui, não sei se é cedo ou tarde ou o que é cedo ou tarde ou se já vou cedo ou tarde ou se o cedo é tarde ou se o tarde é cedo. Tenho sede em saber, necessidade de conhecer a mim e pegar carona nas asas da borboleta...
Era uma vez e eu não me lembro. Era outra vez e eu não estava lá. Eram tantas às vezes e em nenhuma descobri o que estava por trás do seu olhar. Era a vez de sempre e sempre existia a distância e eu tonto com o seu cheiro me embriagava a vagar pelo nada. Mergulhado. Absorto. Preso a uma realidade que era só minha, mas existia a gaivota, existia a devoção, existia o céu e toda a dimensão do infinito. Meu grito. Minha paz. A existência e você...
Não sei se digo ou me engasgo. Não sei se relato ou guardo para mim. A condição de não saber é cômoda e eu me acho perdido nesse estado de desconhecido. Oráculo. Déjà vu. Solidão. Caça de si. Esquadros e tantos outros laços de nós cegos. Não digo, pronto. Não há necesidade de exposição. Pertenço ou tempo findado e enquanto o dado é lançado eu me consumo em interrogações.
É o meu dia e esse é o meu presente. Vou agora, nesse momento, embriagar a mim mesmo calculando respostas que não chegam a ter resultados concretos. E nem precisa dos termos cognatos ou dos termos para designar qualquer ato, preciso, pois, só preciso mesmo de descanso e um banho frio. Está posta a mesa do café e observo a geleia...
Não sei se pisco o olho ou se é um cisco no olho. Corre água do meu olho e tenho medo de me afogar com a lágrima insistente. Cismo com minha imagem refletida no espelho da parede. Quem sou? O que sou? Por que tenho que ser algo?
Não sei, essa é a minha verdade. Talvez porque a construí assim e me acomodei assim ser. Desespero? Depressão? Falta de aptidão? Não, essa é a única certeza que tenho, uma fome voraz de... Mas a fome é abstrata, necessita de... Deixa pra lá! Vou delicia-me com essa deliciosa goiaba, talvez na primeira mordida eu me encontre com mais certeza de...