Globalizêichon

Peguei meu carrinho de origem francesa (fabricado no Brasil) e fui ao laboratório americano. Entrei numa máquina inglesa, um túnel barulhento que varreu meu corpo da cintura para baixo enquanto aplicavam na minha veia de sangue ítalo-brasileiro um líquido formado por um metal raro, descoberto por um químico finlandês no século 18.

Levei o resultado do exame ao especialista nissei, que me disse que os caucasianos e africanos sofrem mais desse mal: a artropatia, do grego “árthron” (articulação) e “páthos” (sofrimento). Geneticamente, estou sujeita ainda à osteopenia, mal que acomete 100% das mulheres de minha família, todas de origem européia. Assim, recomendou-me um remédio à base de uma planta chamada Garra do Diabo, que cresce no continente africano - mais especificamente, no deserto da Namíbia.

Passei à hidroterapia, uma prática que evoluiu de hábitos de antigas civilizações, como os egípcios e os caldeus, tendo sido aprimorada nas famosas termas romanas. Na piscina, uma fisioterapeuta com claros traços hispânicos me ensina a fazer movimentos com acessórios, que incluem uma bicicleta nada parecida com as que o italiano Da Vinci concebeu, os franceses desenvolveram e os ingleses finalizaram.

Tomo banho, guardo minha touca (que os celtas chamavam de tauka, abrigo de pano para a cabeça) e saio caminhando devagar pelas ruas do meu bairro, cujos nomes lembram sua origem ferroviária inglesa. Um condomínio com sugestivo nome, London, começa a brotar na rua com nome de rei português, num terreno onde havia um conjunto de sobradinhos geminados de desenho italiano. Que agora são apenas fotos, tiradas (antes que tombassem) com uma máquina japonesa.

Eta mundinho pequeno de meu Deus...