Goste de mim, mas não me assuste



 
                        Olha, meus queridos amigos e amigas, ando muito preocupado com os poetas e poetisas do amor aqui do Recanto das Letras.  Como este texto será o de número 600, um número redondo e como estou querendo uma comemoração por este feito, achei interessante falar de amor, que me parece mesmo o tema central e principal de nossas vidas. Não foi à toa que Jesus de Nazaré tenha colocado o amor como a única salvação para a humanidade.
                        Aqui, modestamente, vou tentar falar sobre o amor humano, tão complicado, cheio de nuances, de voltas e reviravoltas.  Claro, amigos, que já andei lendo muitos autores sobre o amor e além do mais tenho também minha experiência no assunto. Ou talvez seja mais certo dizer minha falta de experiência, ou melhor, minha falta de jeito para o amor.
                        Mas  uma coisa posso dizer: me é mais fácil  gostar dos outros, como morro de admiração por tanta gente. Vocês nem imaginam!  Agora, quando se trata de ser gostado, eu me complico todo. Quando alguém gosta de mim,  fico zonzo, não sei o que fazer e saio correndo feito bicho do mato. Sério, amigos, o lado psicológico da gente é bem complicado. Vou dar um pequeno exemplo. Quando era adolescente, lá com meus 17 anos, os amigos e amigas de meus pais se empolgavam comigo e me elogiavam muito. Pronto,  quando meu pai me revelava isso eu passava a fugir das pessoas.  Recordo-me bem que um  certo dia,  aquele meu grande amigo, o Luiz Affonso, me disse que o pai dele, que era psicanalista, (naturalmente, fujo de psicanalistas, elas acham todos nós uns monstrinhos e levam tudo para o lado sexual) me achou um cara formidável e havia simpatizado com a minha pessoa. Eu mesmo nunca soube por que as pessoas achavam de simpatizar com este pobre cronista. Pois bem, como ia contando, fiquei paralisado de medo: “então, o pai do meu amigo simpatizou comigo? O que faço agora?” Disse isso para o Luiz Affonso e perguntei como me deveria  comportar. A resposta dele foi simples: “ô, amigo, você não tem que fazer nada, só continuar a ser naturalmente o que você é!”
                        Acho que esse é o meu problema até hoje. Eu não sei quem sou eu!  
                        Mas vou me deixar de lado, e dizer logo o que tenho pra revelar  sobre o amor. Ou trazer mais confusão sobre o assunto.
                        Em qualquer relacionamento humano, o conflito vai sempre surgir, e no amor, então,   a incompreensão aparece logo,  dependendo  do grau maior ou menor da maturidade do casal.  Por isso que se diz que há necessidade primeiro de resolvermos nossos conflitos internos, antes de partir para o contato com o outro ou outra.
                        Mas o que eu aprendi de verdade,  foi que devemos viver nossos conflitos dentro da relação e não tomar decisões precipitadas. Só crescemos, mesmo, é dentro do conflito, porque o amor é um processo, que se desenvolve com todas essas emoções conflituosas que vão surgindo. Se eu me decido precipitadamente,  dizendo: isso não presta por isso ou por aquilo, eu paro com o processo do amor. Temos que aprender a  conviver com os sustos, com as desavenças, com as diferenças, com as afinidades, com os cansaços da convivência, com as tristezas e alegrias do dia a dia.
                        Não fugindo desse processo salutar é que poderemos realmente crescer juntos com a companheira ou companheiro, parando de se assustar.
                        Isso é o que eu desejava passar, com todo o respeito,  aos poetas, exímios no amor teórico, nas palavras. Tudo bem, adoramos poemas de amor, flutuamos no espaço com lindos versos.  E esses poemas são necessários porque são nossos gritos existenciais!  Mas precisamos saber que necessitamos resolver nossos conflitos para chegarmos a um amor bonito de verdade.
                        Bem, se a sugestão não servir pra nada, pelo menos tivemos uma conversa amena e simpática . No que me toca, sabendo disso tudo, talvez mais preparado, consiga me assustar menos e, quem sabe, não fugir mais da amada...