O MEU SUPER-HERÓI

- Papai já podemos ir?

Eu gritava do carro, enquanto meu pai se despedia da minha mãe na varanda de casa, os sábados eram só nossos e sempre inventávamos algo novo, íamos do campo de futebol ao museu, parque, zoológico, jogávamos bets, andávamos de skate, bicicleta, carrinho de rolimã, mas eu gostava mesmo quando ele me levava andar de carro, sempre quis ser piloto de fórmula 1, ficava vidrado nas corridas que passavam na tevê, lia muito a respeito também, e papai sempre sonhou comigo o meu sonho, éramos unidos e sempre fomos muito próximos. Quando eu completei sete anos, lembro-me como se fosse hoje, meu pai me levou ao autódromo, foi uma alegria tremenda, meu sorriso ia de orelha á orelha, a felicidade era tanta que parecia um sonho, mas não era, era real, e até dei uma volta com o piloto, parecia voar sobre quatro rodas.

Assim que cheguei em casa chorei no colo do meu pai, e vi os seus olhos cheios de lágrimas também, e sabe esse papinho besta de que homem não chora? Pois bem, meu pai chorou e não deixou de ser menos homem pra mim nunca, ele sempre foi honesto, justo e cheio de bondade no coração, e é isso que importa, boas pessoas possuem grandes qualidades. Assim como ele. Sempre vi meu paizão como um super-herói, ele não tinha poderes especiais, não soltava fogo, não tinha visão de raio-x, não era elástico nem de pedra, não ficava invisível muito menos se teletransportava, e também não tinha toda a força do super homem, embora fosse o meu super-herói de qualquer maneira, ele tinha poderes poderosíssimos isso sim, quando mamãe chorava ele conversava e o choro cessava , quando eu caía e me esfolava todo, ele tinha um super, hiper, mega, ultra remédio mágico, ardia porém a dor ia embora rapidinho, ou quando vovó quase foi atropelada e ele se jogou na frente do carro, parecia voar, ele é realmente incrível, e quando o dia não estava nada bem, as coisas tinham dado errado desde o começo, ele me dizia: - Amanhã tudo isso terá passado!

Eu sempre acreditei nele, e sempre era como ele me dizia.

Certo dia mamãe chegou em casa chorando, procurei o meu herói, ele poderia resolver, mas não o encontrei, era novo demais e não entendia o que se passava, mamãe me colocou no carro e fui parar no hospital, fui visitar meu pai, entrei em choque ao vê-lo naquela cama, com vários fiozinhos na nariz, na boca e na cabeça, foi terrível, queria poder vê-lo de pertinho, mas não me deixaram, afinal ele estava desacordado, minha mãe me disse que ele ia melhorar e que amanhã ele estaria em casa. Fomos embora. Não consegui dormi direito, afinal era o meu pai, era meu, meu. Sete dias depois ele voltou para casa, havia melhorado e perguntei o que ele tinha e ele me respondeu: - Papai ficou doente, ás vezes as pessoas ficam, mas estou bem agora e prometo nunca mais te deixar só!

Os dias foram passando, e como de costume aos sábados íamos nós aos nossos passeios, era sagrado, em um dos passeios papai caiu, eu o chamei várias vezes, mas ele não acordava, comecei a chorar e uma mulher que estava ali por perto veio correndo até nós e ligou para o hospital e lá fomos nós em direção ao hospital. Ouvi burburinhos entre os médicos e algumas enfermeiras, fiquei preocupado, queria ir com o meu pai mas não pude, ligaram para mamãe e ela logo chegou, ela chorava como da outra vez, tudo estava cada vez mais estranho.

Naquela noite não quis voltar pra casa, queria ficar perto dele, mamãe dormiu comigo no hospital, na manhã seguinte bem cedinho fui ao banheiro e deixei a porta entre aberta e ouvi os médicos falarem que papai tinha câncer e que não teria muito tempo de vida, comecei a chorar e não sai do banheiro, mamãe foi me procurar e me encontrou lá sentado ao lado da pia aos prantos, contei o que ouvi e fomos ver papai, pedi para ficar um pouquinho com ele. Ao entrar estava com os olhos cheios de lágrimas e de imediato vi uma lágrima escorrer de seus olhos.

- Papai você está bem?

- Não meu filho, mais papai vai ficar bem.

- Quando?

- Não sei meu filho, mas logo!

- Você vai morrer papai?

- Eu não quero que isso aconteça.

- Mas pode não é?

- Sim meu filho, mas caso isso aconteça eu sempre estarei como você como eu te prometi.

- Como?

- De uma forma diferente, embora não me veja, eu estarei.

- Como você me ensinou a olhar as estrelas e conversar com o vovô que já se foi?

- Isso mesmo meu pequeno grande homem!

Sequei a lágrima que rolava de seus olhos e dei um beijo em seu rosto. Senti a respiração do meu pai acelerar, e cada vez mais ficar ofegante, me preocupei, mas ele me segurou pela mão.

- Papai te ama, só não esquece...

Os aparelhos começaram a fazer um barulho tremendo, seus olhos se fecharam de vagarinho, as enfermeiras e os médicos chegaram logo em seguida, mas papai já tinha ido, papai se foi e nunca mais vai voltar. Chorei muito, embora minhas lágrimas não pudessem o trazer de volta, chorei.

As noites converso com as estrelas, eu sei que ele pode me escutar, ele me vê lá de cima e me protege, lembro-me como ele me cobria e me dava boa noite todas as noites, são lembranças, embora aqueles dias não voltem mais.

Papai realmente era um super-herói, só que descobri que por mais especiais sejam seus poderes, eles não possuem a imortalidade e se vão. Papai espero que me veja correr um dia. Você sonhou comigo o meu sonho, e o meu sonho é seu também...

Vanderlei Woytowicz
Enviado por Vanderlei Woytowicz em 17/08/2012
Código do texto: T3834315
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