Fragmentos de um diálogo

Fragmentos de um diálogo

Jorge Linhaça

Duas meninotas com seus 8 ou 9 anos passaram por mim e uma delas soltou um:

Concordo plenamente!...

E lá se foram as duas pátio acima...dali a pouco retornaram e logo a seguir veio um garoto talvez um pouco mais velho, com um presente de aniversário para a “concordo plenamente” … \a garota não se fez de rogada e foi logo dizendo...

Já sei o que é, é um diário! Eu já tenho diário, aliás eu já tenho três diários.

O rapazinho , meio sem jeito, mas sem perder o rebolado, respondeu que não tinha como saber.

A menininha não contente ainda me sai com esta pérola:

Sabe como eu sabia que era um diário? Simples! Ninguém dá um livro como presente de aniversário para alguém!

Para alguém que se ocupa das letras, aquelas palavras foram como uma ducha gelada. Imagino que aquela menina não tenha pensado naquilo por si mesma, deve ter ouvido algo semelhante de algum adulto da família ou do circulo de amizades.

Imagino que alguém tenha recebido um livro como presente de aniversário e, depois que as pessoas foram embora alguém tenha comentado sua decepção com o presente.

Por outro lado, fiquei imensamente feliz ao ver nas estações do metrô de São Paulo, máquinas de livros onde você paga quanto acha que vale pelos livros ali expostos. Qualquer nota serve, mas não existe troco...pode-se comprar um livro por um real ( se alguém ainda tiver uma das raras cédulas nesse valor) ou por 2, 5, 10, 20, 50, 100 reais. Claro que a nota campeã de popularidade é a de dois reais.

É impressionante o número de pessoas que cercam as tais máquinas e escolhem ali os seus livros de preferencia ( claro que não há nenhum best seller).

Duas situações opostas, pois não? De um lado aqueles que não consideram o livro um presente interessante e do outro lado a prova patente de que o brasileiro, ao contrário do que dizem as pesquisas feitas sabe-se lá por quem, gostam de ler...o que falta é ânimo para pagar os valores altos pedidos pelos livreiros e editoras.

Não sei de quem foi a sacada das tais máquinas, mas a ideia, além de funcional vai além da parte do negócio, creio até que não seja lucrativa nesse sentido,.

O maior ativo de tal ideia é semear livros, livros a mão cheia e atingir aquela parcela da população que não tem o hábito de frequentar livrarias.

Com ou sem aniversários as letras ainda estão salvas, aliás, é uma boa ideia

para dar uma lembrança ou presente de aniversário quando se está

“ Durango kid ” dar uma passada nas tais máquinas e levar um livro como lembrança. Ao contrário do que a menininha disse, por certo a pessoa ficará agradecida pela lembrança.

São Paulo, 12 de agosto de 2012