Angustiantemente angustiante

Ansiosidade e angústia. Disseram-me uma vez ambas palavras possuem significados próximos e que facilmente o significado de um é capaz de corromper o do outro. É capaz de fazer muitíssimo bem a diferenciação quem já teve o desprazer de senti-los permear em suas vidas. Angústia. Basta imaginar uma roda gigante, só que essa, ao contrário das presentes nos parques de diversão, não possuem cadeiras seguras e multicoloridas. São pequenos pedaços de madeira velha, dominadas pelos cupins e prestes a transformar-se em pó. Não bastasse a ausência de segurança, as pessoas que nela estão não vão confortavelmente sentadas, mas são delicadamente envoltas por uma bolha. É mais ou menos assim. Uma roda gigante caindo aos pedaços e cheia de frágeis bolhas de ar. Consideremos assim a vida um ciclo sem fim; crescer, nascer e morrer. Mas, quando se está angustiado, o ciclo para. A roda girante que girava incessantemente para, congela por tempo indeterminado. De dentro da bolha você não pode fazer lá muita coisa. Se gritar, não te escutam. E mesmo que inutilmente no início se grite até perder a voz, com a permanência do triste estado, o próprio ser que lá dentro está não mais consegue ouvir sua voz, que bate nas paredes frias da bolha e volta com força máxima. Machucando. Então, você prefere não falar. Pensa em se mexer, nem que um pouco. Mas logo depois lembra-se que não está protegido por uma barra de ferro, debaixo dos seus pés há apenas uma bolhinha que tem como suporte um pedacinho de madeira. Então, você não se mexe. E fica assim. Parado, mudo, quase sem respirar para não afetar o pouco equilíbrio que resta. De repente - e não, desista, não há como prever quando nem como - a roda gigante volta a girar. Nem sempre você gosta da forma como ela gira em seu próprio eixo. Muitas vezes ela toma o sentido oposto ao que você desejava. Durante apenas um curto intervalo de tempo você pensa em chutar o pau da barraca, ou dá um pontapé na maldita bolha e sair rolando mundo a fora. Por onde você sempre quis passar. Entretanto, nessa roda gigante existem outros infelizes brincantes. E porventura você os quer bem. E aí, só resta acompanhar o andar da carruagem ou o girar da roda gigante, porque nada, nada pode ser feito sem provocar a queda das demais bolhas que a constituem. E é nessa hora, quando tudo volta a girar que a angústia acaba dando lugar a uma terrível sensação de enjoo profundo. E você implora para tudo não ser mais que um pesadelo. Mas dele, você não acorda; apenas cresce e aceita.

mmmalencar
Enviado por mmmalencar em 16/08/2012
Código do texto: T3832802
Classificação de conteúdo: seguro