Os infinitos eus
Não sei se vale a pena escrever o que estou pensando agora, pois, ao terminar já não estarei pensando da mesma maneira.
Somos uma nova pessoa a cada dia, a cada instante, a cada suspiro que damos. Ao suspirar, estamos expirando moléculas, átomos de substâncias que estavam contidas em nós, faziam parte de nós. E quando aspiramos, estamos incorporando, moléculas, átomos de substâncias que não nos pertenciam, fazendo de nós uma outra pessoa. O corpo humano, como todos os seres vivos, é um sistema gerador e consumidor de energia. São transformações sutis, mas que somadas às outras que também acontecem independentemente da nossa vontade, fazem de nós outra pessoa a cada instante, a cada momento. É a
vida procurando a evolução de si mesma a partir do mais simples em direção ao mais complexo.
Uma atitude tomada, uma atitude não tomada, uma mentira dita, uma verdade aclamada, um olhar olhado, um sorriso oferecido, um beijo negado, um adeus presenciado, uma chegada esperada, uma partida com ausência, uma morte acontecida, uma vida despertada, tudo isso pode mudar o curso de nossa vida, de nosso agir, de nossa personalidade, de nossa maneira de ser. Somos uma outra pessoa a cada momento, a cada instante, a cada suspiro. Até quando não suspirarmos mais.
Devemos viver cada instante de nossa existência, cada suspiro como se fosse o último, já que seremos outra pessoa no momento próximo. E não sabemos como será essa nova pessoa. O presente é que importa. O futuro não existe e o passado já se foi. Nossos instantes, nossos suspiros são como as águas de um rio, jamais voltarão pelo mesmo caminho, jamais conterão as mesmas substâncias, as mesmas moléculas, os mesmos átomos ao passar por um determinado ponto de seu leito.
Ao tomarmos consciência de que somos, e os outros também, uma nova pessoa a cada momento, a cada instante, a cada suspiro, conseguimos traçar um caminho linear para nossas vidas. Passamos a aceitar e respeitar a pessoa que somos a cada instante, a cada momento, a cada suspiro. Passamos a aceitar e respeitar, também, as mudanças, às vezes suaves, às vezes bruscas, dos que nos cercam.
A convivência harmoniosa com a vida, com a natureza, que se encontra em constante mutação, nos levará sempre no sentido da evolução, do equilíbrio total, do apogeu, do clímax. Infelizmente, a interferência criminosa do homem funciona como barreira impedindo que atinjamos o ideal da existência humana.
Neste exato momento eu e você somos outras pessoas.