A Grade do Avestruz

A Grade do Avestruz

14/08/2012

Como faço na maioria dos dias, fui para a beira da lagoa fazer minha penitência diária de uma boa caminhada para ser recompensado com pequenas doses de endorfina e menos peso, pelo menos na consciência.

Tive uma sensação de desprazer ao perceber que um dos lugares mais conhecidos desta Santa Lagoa estava desfigurado.

Tenho que concordar que a visão anterior não me era das mais simpáticas, chegava a ser um tanto funesta, mas era isso que caracterizava o conjunto da obra, era aquele um ponto de referência que agora se descaracterizava. Para mim era um desrespeito à memória, que ousadia daquele proprietário em mutilar tal paisagem. Logo pensei em fazer um manifesto público.

Neste pensar ultrapassei cerca de trinta metros o limite daquela propriedade, quando voltei meu olhar para a paisagem mutilada.

Como é importante termos trinta metros para percorrer, provavelmente é a distância que percorremos no tempo que contamos até dez, coisa que a cada dia mais me aproximo, já chego em sete.

O olhar para trás, me possibilitou novas reflexões.

A nova paisagem era mais natural e assim sendo mais propício ao seu fim.

Depois de alguns trôpegos passos com o olhar voltado ao passado, resolvo dar meia volta e rever a nova cena. Oitenta metros de novo pensar.

Não restava dúvida que para o meu gosto a nova paisagem era muito mais agradável me remetendo a mais antiga das minhas paixões. Estavam me ofertando na realidade.

Era uma troca, a antiga visão pela lembrança da mais antiga paixão.

Não mais me restavam dúvidas, ficara bem mais atrativa e alegre. Como não pude ver ao primeiro olhar a felicidade daquele proprietário em mudar do pálido lilás para o verde vivo a grade que cerca o avestruz.

Geraldo Cerqueira