Amor à prestação
Em tempos de Crise, a ordem é apertar os cintos, suspender os supérfluos e economizar, mas, há tempos que andamos apertando-os na esperança de sufocar paixões, tratando relacionamentos como supérfluos e economizando o “ineconomizavel”, o amor. A regra básica é não desperdiçar e apenas amar quando a pessoa certa aparecer em sua porta com um atestado de amor verdadeiro, registrado em cartório e com firma reconhecida. Assim, a correria e rotina do dia-a-dia tornaram-se as maiores justificativas para não perder tempo com “bobagens” e não se apegar à coisas que podem de alguma forma estourar o orçamento. Matematicamente, a falta de tempo é diretamente proporcional ao medo de amar e sofrer. Tal imagem de amor e sofrimento intimamente ligados está gravada em nosso subconsciente, nos afastando e temorizando prática e teoria. Nada está passível de cortes, olhar nos olhos custa caro e está terminantemente proibido. Abraços? Apenas em festas de finais de ano, aniversários e ainda assim a meio corpo, sempre de forma fria e rápida. Beijos quentes e arrebatadores somente em meio à embriaguez e passível de amnésia alcoólica.
É… são dias difíceis para esbanjadores, tudo é servido a conta-gotas e comercializado a granel. Amar custa caro e declarar é burocrático. Nosso sentimento é condicional e faturado, não usamos por medo de “levar calote” e de tanto economizar acabamos nos precipitando por medo de vencer o prazo de validade. Exatamente como se fossemos crianças deixando de aproveitar doces, balas e sorvetes após a escola para comprar o tão sonhado brinquedo que em poucos meses quebrará.
Por fim, esbanjar é necessário, amar sem receio de não ser correspondido, e caso seja, o caminho é não ter medo de fazer dívidas a curto, médio e longo prazo, gastar até a última moeda, pois o amor se origina de uma fonte renovável.