CRÔNICA – Vergonha: “To have or have not”
 
CRÔNICA – Vergonha:  “To have or have not” – 13.08.2012
 
“Ter ou não ter”
 
          Traduzindo, preliminarmente: Ter ou não ter Vergonha sintetiza praticamente todos os males que acometem as populações do mundo inteiro, lideradas por seus dirigentes.

          Mas por que venho eu tratar desse assunto tão complicado, pergunto-me a mim mesmo? Será que existe alguma desconfiança de minha parte de que eu não a tenho? Isso vai à mesma linha daquela frase célebre de Wiliam Shakespeare, na peça Hamlet, ou seja: To be or not to be, o mesmo que “ser ou não ser, eis a questão”. Resumindo, ou você tem ou não; ou você é ou não é, que até pode parecer um tanto radical.

          Nesse julgamento vergonhoso do Processo Penal 470, que trata do mensalão, onde estão incluídos quase quarenta delinquentes, segundo a denúncia inicial do ministro Joaquim Barbosa, corroborada, em parte pela do Procurador Geral da República, doutor Gurgel, o que se deduz é que esses infaustos senhores da defensoria querem incutir nas mentes dos que fazem o STF que tudo o que fora dito na denúncia é mentira; que se trata apenas de uma simples operação de “Caixa Dois”, denominação criminosa que deram a esse volumoso roubo do dinheiro alheio.

          Estamos vendo e ouvindo verdadeiras aberrações produzidas por quem não entende nada de banco, nem de financiamento e nem de captação de recursos, ou mesmo de câmbio. Se ao menos esses togados ministros do STF armazenassem um pouco do saber daquele personagem “Nobre”, de contos passados, nós teríamos absoluta certeza de que rechaçariam as discrepâncias pronunciadas pelos causídicos dos envolvidos nesse aparatoso escândalo. O mesmo ocorreria se esses cidadãos anelados com o diploma em Direito tivessem noções mínimas de direito bancário, administração financeira e operações de um modo geral. Bem que poderiam lançar mão de homens sérios, bancários de carreira, aposentados do BACEN e do Banco do Brasil.

          Ora, para haver Caixa (1, 2, 3, 4, etc.) tornam-se necessários três figuras: uma pessoa, um lugar e o dinheiro, pois caixa é assim como um sinônimo de numerário. Na contabilidade de antigamente as empresas tinham como obrigatoriedade que possuir alguns livros contábeis, como por exemplo: Caixa, Borrador, Diário e Razão, cada um com sua finalidade. O Diário, por exemplo, era para as operações que não envolviam Caixa, dinheiro. Transferia-se dinheiro de uma conta para outra apenas através de lançamentos, aqueles das famosas partidas dobradas, sempre com a máxima: Para cada débito corresponde um crédito de idêntico valor, era assim como extra-caixa. Vamos admitir que A quisesse transferir 200 reais para B. Assim: debitava-se a conta A e creditava-se a conta B com o seguinte histórico: Importe que se transfere da conta de Ansilgus para a do senhor José da China, conforme autorização em carta de 23.08.2012. A transação era feita sem que com isso se tocasse sequer no dinheiro.

          No mínimo esses inteligentes mudaram a contabilidade, as regras básicas. Hoje praticamente com a introdução do computador as coisas diferem um pouco, mas o essencial permanece. Não há que se falar em caixa dois sem que logo se imagine que ali o que predomina são transações ilícitas, roubo, lavagem de dinheiro e coisas tais. Não vamos aqui querer ensinar nada a ninguém, mas apenas estamos dando algumas pinceladas. Isso me fez lembrar a despedida do presidente de nossa casa da moeda, que foi demitido no ano passado, mas sem que ninguém soubesse realmente quais as razões dessa punição. Será que estaria sendo emitido dinheiro direto de lá para os famigerados caixas dois dos partidos, isso sem qualquer lastro... Sei não, mas não acredito em coisa nenhuma do que esses políticos dizem diariamente.

          Como é que se pode admitir que um cidadão, presidente do Banco Rural, por exemplo, haja preparado uma filha para assumir seu cargo depois de sua morte, quando uma entidade bancária não pode ser bem de família; e o pior ainda é como pode essa senhora presidente, da qual vou omitir o nome, conseguir nomear sua irmã, uma bela bailarina moderna para o cargo de vice-presidente, sem entender patavina do que é uma posição tão destacada como essa! Aliás, quem tem o Banco do Brasil com uma rede nacional das maiores não pode aceitar que se crie um banco rural, porquanto na realidade o único banco rural que temos realmente é o que foi fundado em 1808. Outra coisa havia uma proibição nas leis para que bancos não emprestassem dinheiro a partidos políticos, nem fundações e “et cetera”.

          Mas hoje eu tive a oportunidade de assistir o discurso de sustentação do advogado do doutor Roberto Jefferson, deputado federal à época em que desaguou esse famigerado caso do mensalão, que era o presidente do PTB. “Dissera o doutor José Francisco Barbosa que a procuradoria geral não fez o seu trabalho da maneira séria, porquanto não incluiu no rol dos denunciados o nosso ex-presidente Luiz Lula da Silva, numa explicação que muito me chamou a atenção. Sim, porque o Lula não era nenhum palhaço para não enxergar tudo àquilo que se passara na sua frente e a sua volta. Era ele, segundo o referido advogado, quem mandava e desmandava, suas ordens eram pra valer”. Aliás, o ex-presidente Collor já dissera que esse procurador havia prevaricado. Para mim esse foi o mais lúcido pronunciamento produzido pela defesa.

          Mas ele somente dispunha de quinze dias para apresentar a denúncia, entretanto deixou o tempo correr e não fez o que deveria, por obrigação, ter feito tão simplesmente cumprir a lei. Ora, mas até mesmo a CPI do mensalão não fez referência ao ex-presidente, que é um intocável, deixou de fornecer dados ao procurador para fazê-lo, fora assim uma solidariedade total ao Lula, que era e ainda continua sendo o brasileiro mais poderoso desse país.

          Entendo que se esse argumento corajosamente agora apresentado pela defesa do cassado Roberto Jefferson, coisa que não é difícil, haverá absolvição geral nesse processo penal nº 470, e assim passaremos a comer uma incomensurável pizza brasiliana... Terra da vergonha e do descalabro administrativo.

Eu bem que queria ter orgulho de ser brasileiro, mas fazer o quê...
 
Foto: 005 – 13.08.2012
 
Em revisão.
Ansilgus.
ansilgus
Enviado por ansilgus em 14/08/2012
Reeditado em 15/08/2012
Código do texto: T3829228
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