MEU PAI...
Dia dos pais! quando eu o possuia em carne e ossos, não se falava, não se comemorava este dia.
Antigamente não havia tantos dias comemorativos, e eu sou bem antiga.(66 anos...)
É certo que não havia comemorações, mas certamente o amor e o respeito existiam.
Eu sempre fui muito ligada em meus pais, mas com o papai tinha uma grande afinidade, e muita admiração, acompanhadas, claro, por um grande respeito.
Meu pai, para mim, foi um grande homem. Inteligente,culto, mesmo sem ter estudado muito.
Era filho de um casal nascidos na Russia, e trazidos para o Brasil
quando meus bisavós para cá vieram, tentar nova vida.
Eram pobres, mas tinham cultura e transmitiram seus conhecimentos aos filhos, que os transmitiram aos filhos, e por aí vai...
Meu pai era um agricultor nato, mas amava o garimpo de diamantes.
Era erudito quanto a música e livros, mas aos sete anos, encontrei gibis(Em um formato que nunca mais ví) de um cauboi de nome Tom Mix, escondidos em seu quarto-biblioteca, onde para conseguir entrar, eu, menina de seis anos, curiosa e atrevida, tive que me apossar da chave do cadeado, o que foi uma "arte" sem tamanho e por certo teria levado uma boa surra com o "rabo de tatú", se não houvesse a explicação (extraordinaria) para que eu tivesse praticado tão imperdoável crime de roubo(pela chave) e invasão de privacidade(a biblioteca era trancada).
Ele nos incutiu um senso de honestidade, do que era permissível e do que não era,que eu considero admirável, e tento repassar para meus descendentes.
O que me salvou da grande surra, seguida naturalmente de algum
duro castigo, foi o fato de meu irmão ter me surprendido lendo um grosso livro, mas grosso mesmo, que eu LIA escondida, deitada em um saco de aniagem em um imenso cipoal no cerrado. Tive que dizer como havia obtido o livro, e como estava LENDO, se não sabia, se nem estava na escola...
A tarde, depois do jantar, quando as lamparinas eram colocadas
na grande mesa, e toda a familia se reunia para ouvir os relatos de mamãe sobre nossos comportamentos, e os respectivos elogios, ou as reprimendas, ou os castigos, que eram ditados por ele, fui chamada com um sinal de dedo, a me aproximar de sua cadeira de descanso, e tremula de pavor,fui...mas para surpresa geral, com voz calma, me perguntou por que havia cometido atos tão horríveis para obter um livro, se nem sabia ler.
Então, eu disse com a confiança de quem realmente sabe, que se quizesse eu leria para ele.
E lí tres paginas do imenso livro que tinha por titulo:CARLOS MAGNO E OS DOZE PARES DA FRANÇA. Boquiabertos, todos me me ouviram.
Perguntou-me então, como eu havia aprendido, e contei-lhe que sentava sempre aos pés de meus irmãos quando estavam estudando, e
assim havia aprendido...
E ao invés da tão temida surra, ganhei elogios, o direito de ler(desde que os livros fossem selecionados por ele), e o imenso prazer de me aninhar em seu colo...
E depois, ouvir as lindas estórias Russas contadas por ele, e ouvi-lo tocar a velha balalaika herdada por ele...
Todos o ouviam... eu ouvia e admirava-o. Era o maior homem do mundo... era meu heroi, era meu PAI.