Meu pai não vale um tostão!

O mundo virou um samba do criolo doido, mas a gente ainda insiste em celebrar como faziam nossos ancestrais. No entanto a celebração mudou de sentido e por isto sua liturgia se perdeu. O sagrado tornou-se profano, o metafísico materializou-se a tal ponto que assustaria até mesmo Marx. A alegria, o prazer e a confraternização tornou-se uma obrigação. Hoje é dia dos pais. Ponto! Ordem do dia: divirta-se! E assim todos os habitantes das capitais e cidades do interior do Brasil descobrem que embora sendo habitante da sexta economia do mundo não dispõem de serviço de restaurantes suficiente.

Assim metade do domingo é gasto em filas de restaurantes, em filas de supermercados ( O que se deve comer no almoço dos dias dos pais?) ou numa via crucis pelos shoopings. O stress é inevitável, principalmente quando você senta a mesa, literalmente captura um garçom, e descobre que o chopp está morno, a comida está fria. Depois vem as conversas em família; primeiro as lembranças, as mesas de sempre. Depois a saudade dos que se foram e finalmente um bate boca básico. Como Isaac e Jacob, os filhos tentam apresentar argumentos para herdar a soberania família.

Para encerrar o dia a abertura dos presentes: canetas, meias, gravatas, e alguma parafernália eletrônica para que ele não se sinta velho. No final das contas você descobre que gastou além da conta e provavelmente vai ter que recorrer ao seu pai para fechar o cheque especial sem precisar pagar juros. Pronto aí está o dia dos pais pós-modernos.

Como disse meu pai não vale um tostão. Vou até sua casa almoçaremos juntos, a velha e boa galinha assada com arroz de domingo, comeremos o pudim que minha esconde a receita das noras, veremos as crianças correr pelo quintal, falaremos sobre a derrota do Brasil nas olimpíadas e relembraremos a seleção de 82. No final da tarde ficaremos calados na varanda ouvindo o som do silêncio e a respiração um do outro até que eu me levante e depois de um beijo e um abraço volte pra casa.

Não precisei de um par de meias para dizer que o amava, aliás nem precisei dizer isto, assim como ele não precisou dizer que está feliz comigo. Trocando em miúdos meu pai não vale um tostão porque o amor é de graça e o que é essencial não precisa vir embrulhado em papel de presente.