UM MATUTO ACADEMICO

Uma surpresa inesperada de minha parte, a atitude da academia Bom-Despachense de letras, concedendo-me o privilégio em desfrutar seu agradável convívio, e participar de suas atividades. Isto constitui para mim motivo de orgulho e gratidão. Orgulho por estar compartilhando com os mais nobres pilares da literatura e da história cultural, de nossa centenária Bom Despacho. Gratidão a Deus pelo dom da vida e por tudo que me concedeu. E gratidão aos amigos que me acolheram concedendo-me a honra de ocupar a cadeira nº20 (vinte). É marcado pela emoção, que procuro justificar perante mim mesmo esta distinção tão significativa. Nunca imaginei merecer tamanha honra.

Neste momento eu rememoro a origem e a motivação que me fez chegar até este importante acontecimento voltando no tempo, ao longínquo ano 1950 quando cheguei á escola pela primeira vez, e encontrei na sala de aula aquela mulher de voz angelical que atendia pelo nome de Maria Guerra, e que teve tudo a ver com a formação de minha personalidade, espelhada na harmonia afeiçoada por sua humildade e na serenidade com a qual ela ministrava suas aulas.

Limitando-me apenas ao primário e a escola da vida, nada mais posso apresentar que justifique minha presença entre os nobres companheiros. Ao concluir o primário troquei o material escolar pelo cabo das ferramentas rudimentares com as quais, Sem abandonar o hábito da leitura lavrei a terra durante mais da metade da minha existência. Caminhei por trilhas estreitas, às vezes tortuosas entre espinhos, mas sempre com muita fé, espelhado pelo exemplo e pela dignidade de meus saudosos e adoráveis pais José e América.

É meu dever de acadêmico agradecer a todos: minha família, aos amigos, em especial minha companheira Amarildes, esposa, amiga, amante em todos os momentos, razão de todas as razões da minha vida. Acredito-me que essa rede de fatores, ações e sentimentos que me acercaram no decorrer de minha caminhada, fizera com que o universo se conspirasse a meu favor, concedendo-me a honra de ocupar uma cadeira, como um dos membros fundadores da Academia de letras de Bom Despacho. Peço ao pai celestial que me conceda sua graça e luz para que eu possa fazer jus a esta concessão, e que jamais eu venha decepcionar meus nobres companheiros.

Casei-me no ano de 1964 completando assim a metade que me faltava. Dois anos mais tarde 1966, com a graça de Deus e a valiosa ajuda de minha querida esposa, que mais do que eu, trabalhava quase que inerruptamente dia e noite, adquirimos nossa pequena propriedade rural. As dificuldades como pequeno produtor me levaram a busca de alternativas que complementasse nossa renda familiar. Aos 13 de junho de 1968 abrimos um pequeno comercio em nossa propriedade. A tradicional vendinha de roça, com gêneros de primeira necessidade. Mais tarde, a partir de 1980 dediquei-me exclusivamente ao comercio, ao me transferir para o centro do Engenho Ribeiro.

Envolvendo-me com as carências do distrito, que parece ser intermináveis. No ano de 1986 surgiu à necessidade em fundar uma Associação Comutaria para o distrito. Fui eleito presidente. Trabalhamos unidos diretoria e comunidade sanando vários problemas, de caráter social que afligiam a comunidade. Esta passagem pela Associação colocou-me em contato com diversas autoridades responsáveis pelas questões sociais, uma convivência gratificante, uma luz para um excelente aprendizado. Rendeu-me um percentual de conhecimentos bastante significativo.

Em 1988 sentindo na pele a necessidade de deixar escritos alguns dados sobre as origens de nossas raízes, sem a menor intenção em tornar um escritor, coisa que nunca passara por minha cabeça, rascunhei alguns dados sobre nossas raízes. Manuscritos estes que foram engavetados. Quinze anos mais tarde em 2003 minha filha Silvane e uma sua colega, funcionária de uma editora em Brasília, convenceram-me a publicá-los. Nascendo assim meu primeiro livro. Intitulado (Gavetas da Mente), baseado em lendas, e escrito sem nenhum compromisso com a coletividade.

Sua repercussão foi surpreendente, eu a recebi como um puxão de orelha, aliás,o primeiro de uma série que surgiram, digo puxão de orelha porque este fator veio me mostrar que escrever é necessário, mas, requer responsabilidade, não podemos repassar nossos gritantes erros gramaticais, às crianças e jovens de hoje que serão os homens e mulheres de amanhã.

Sendo este livro utilizado em pesquisa escolar, senti-me na obrigação de escrever um segundo, tentando corrigir as inverdades contadas por suas lendas, e algumas mentiras históricas que me foram repassadas. Em 2004 publiquei (Gentes de Minha Terra Em Contos do Vale). Também manuscrito e fundamentado na tradição histórica, com mais conceitos de veracidade. Nos anos seguintes já de posse de um computador, com mais facilidade publiquei outros. (Pelas Trilhas do Vale) em seguida (Raízes de Outrora), logo após veio (Caprichos da Natureza), e finalizando, (Saudades Remoídas), sendo este minha ultima publicação. Apesar destas publicações, ainda não consegui assimilar a idéia de que realmente eu seja escritor, embora existam motivos que poderiam levar-me a pensar nesta hipótese.

Desde setembro de 2009 venho postando meus textos na internet no site Recanto das letras. O que me rendeu um bom relacionamento com pessoas de diversas culturas, formando um gratificante circula de amizade virtual.

Em outubro de 2010 tive uma agradável surpresa ao ver um texto de minha autoria escolhido como tema em um seminário de gramaticalização realizado pela universidade Santa Cruz sediada na cidade baiana de Ilhéus. Sendo escolhido o texto, (a Cartomante) de Machado de Assis, como tema para o século XIX, e (Um Cão e Um Escravo Em os Olhos Bugre), de Geraldinho do Engenho para o século XXI. Talvez a partir de acontecimento desta natureza, possa vir a cair minha fixa, e encorajado eu direi que sou um escritor.

Voltando aos dados bibliográficos na influencia recebida na formação de minha personalidade, devo citar uma figura de suma importância em minha vida Meu saudoso e celebre avô Guilhermino Rodrigues da Costa. Dizendo-me: “nunca diga não, ao seu próximo sem antes colocar no lugar dele, analisando sua solicitação”.

Espelhado nestes princípios que me foram repassados, aqui estou neste momento sublime para ocupar com muita honra esta posição de acadêmico, cujo patrono será o renomado e imortal Darcy Ribeiro, escritor que abraçou de corpo e alma a causa do índio brasileiro. E que inspirando na etnia silvícola e na natureza escreveu sua valorosa e valiosa obra literária. Um cidadão, que desempenhou um papel fundamental na política brasileira, mineiro de Montes Claros, nascido em 26 de outubro de 1922 formou-se em antropologia no ano de (1946), Em São Paulo dedicou os primeiros anos de sua carreira ao estudo dos índios do pantanal e da Amazônia (1946-1956). Neste período fundou o Museu do Índio e estabeleceu os princípios ecológicos do parque do Xingu. Escreveu uma vasta obra etnográfica e de defesa a causa indígena. Nos anos seguintes, dedicou à educação primaria e superior. Criou a universidade de Brasília da qual foi seu primeiro Reitor, e foi Ministro da educação. Mais tarde Ministro-Chefe da casa Civil. Coordenava as reformas estruturais quando sucedeu o golpe Militar de 64, que o lançou no exílio. Suas idéias romperam fronteiras. Viveu em vários países da América Latina, não só conduziu programas universitários como também assessorou vários presidentes do cone sul. Vindo a falecer anos mais tarde acometidos por um câncer.

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 11/08/2012
Reeditado em 13/02/2019
Código do texto: T3825006
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