ONDE ESTÃO AS CRIANÇAS
ONDE ESTÃO AS CRIANÇAS
Olho para o céu e não vejo pipas, apuro os ouvidos e não ouço algazarra, perscruto o horizonte e não vejo correria, brincadeiras de pega-pega, acusado, esconde-esconde, não vejo e não ouço o estecar das bolinhas de gude, não vejo a terra espetada pelo espeto, não vejo o pião rodando, rodando, não vejo a queimada queimando.
Onde estão as crianças¿ Provavelmente em casa, sentadas com um ratinho na mão e um reflexo de tela nos olhos, ou então aprisionados em um shopping, brincando em piscinas de bolinhas, ou em grandes estruturas plásticas, após tirarem meias e tênis e ficarem descalços com seus pés finos, limpos e delicados. Depois, antes de ir embora comerão um Mac qualquer e ganharão um brinquedo, que poderia ser comparado aos espelhinhos, que índios ganhavam dos invasores.
Toca a campainha, fico por um instante feliz, pensando ser algum moleque, que passou e a tocou para logo sair em disparada. Ledo engano, é mais alguém a pedir ajuda.
Foram-se as crianças, foi-se a inocência, ficaram todos precocemente adultos. Sem saudades, afinal ninguém pode ter saudades do que não viveu.
Apenas eu.