AMÉM?
Eu já tinha ouvido falar, mas dia desses tive a oportunidade, infeliz, diga-se de passagem, de assistir ao grotesco e escandaloso espetáculo do cai-cai.
Dois ou três quarteirões antes de uma dessas muitas igrejas pentecostais, que surgem do nada num piscar de olhos, para arregimentar os coitados fiés de seitas cada vez mais inconvenientes, cujo objetivo principal, se não o único, é enriquecer o “ex-drogado”; “ex-traficante”; “ex-homossexual”; “ex-ladrão”; “ex-assassino”; etc. metamorfoseado em pastor, já dava para ouvir o alarido.
Acompanhado por bumbos e pandeiros, o pretenso pastor, vestido com uma túnica branca, semelhante à alva dos sacerdotes católicos, grita a plenos pulmões frases desconexas, recheadas de aleluias e améns e ao mesmo tempo toda a plateia, com os olhos fechados, grita em resposta outros améns e aleluias.
Eu não poderia deixar passar essa oportunidade de assistir ao ridículo espetáculo e parei, do lado de fora, logicamente.
A um gesto teatral do cínico pastor, parte da plateia que estava de pé, saiu dos seus lugares cambaleando como se estivesse embriagada enquanto outros participantes caíam por sobre as cadeiras, em visível crise convulsiva.
Os trejeitos, gritos e gargalhadas são semelhantes aos dos praticantes das religiões de raiz afro, notadamente a Umbanda.
Vale ressaltar que as músicas e danças dos Orixás são plenas de simbolismo e obedecem ao ritual de incorporação das entidades em seus respectivos “cavalos” num espetáculo digno de ser assistido, vez que estão sendo manifestadas as forças da natureza através de deuses menores, tal como nos rituais da época das cavernas ou de antigas tribos africanas ou americanas.
No cai-cai dizem ser a manifestação do espírito santo, o espírito de deus, o espírito que é a terceira pessoa da santíssima trindade, onipotente, onipresente e onisciente que manifesta ser portador de epilepsia ou embriaguês.
No Brasil, todo mundo sabe que deus é brasileiro, se isso é verdade também é verdade que o espírito santo é pernambucano porque, manifestado, ele sabe fazer os passos do frevo, pois os trejeitos executados por quem se acredita possuído são bem semelhantes aos passos do frevo, que bem poucas pessoas (eu no meio delas) sabe dançar com perfeição.
Essa triste experiência me fez pensar o quanto é desastrosa a decisão dos nossos governantes em analfabetizar a população brasileira.
O analfabeto por ter a mente estreita (com raríssimas exceções) é facilmente usado como massa de manobra, naquilo que a Sociologia classifica como “efeito manada” onde a individualidade fica embotada e as pessoas são induzidas a cometer os piores desatinos por ter perdido o senso de ridículo e a capacidade de segregar o certo do errado; o belo do grotesco; a verdade da mentira e se deixa expor na mais idiota pantomima que não dignifica ninguém nem serve para nada.
É também possível que aquela gente, que acredita estar possuída pelo espírito santo, esteja em verdade sofrendo o efeito da histeria coletiva ou induzida pela auto-hipnose, motivada pela zoada infernal das frases gritadas por muitas vozes, pelo som dos instrumentos de percussão, pelas vestimentas dos “orientadores” e por todos os objetos que compõem o visual do templo, porque além das contorções emitem sons (línguas estranhas) intermediários entre o balbucio de criancinhas e os rosnados, guinchos, mugidos e relinchos de outros animais não humanos, sem nexo ou quaisquer significados.
Se esse pessoal participante da palhaçada cai-cai fosse alfabetizada como preconiza Paulo Freire, o educador, e fizesse a crítica sobre as escrituras, entenderia que, as línguas estranhas faladas pelos apóstolos (se é que eles existiram) depois de pentecostes, eram línguas diferentes do aramaico que era a língua pátria daquela região e as línguas estranhas eram o grego, o latim, o híndi e as línguas faladas pelos muitos escravos númidas, trácios, bretões, galeses, fenícios, etc. que faziam parte da população romana dominante.
É triste, muito triste o futuro a que estamos condenados com essa onda crescente de religiões neopentecostais, onde só é permitida a leitura da bíblia, e que fatalmente nos levará à teocracia ortodoxa (já temos bancada evangélica no congresso) como está acontecendo com os países seguidores do alienante islam, onde só se pode ler o corão.