Meu pai faz muita falta



 
                          Há  momentos em que sinto  muita falta do meu pai.
                           Naquelas horas em que nos sentimos tão pequenos, tão pobres de espírito, tão sem inteligência para concatenar as ideias, com pensamentos que vacilam...
                           De certa forma fui um privilegiado em ter um pai de uma sabedoria rara. Era fácil pra mim, tanto ter uma simples dúvida, quanto uma formidável dor existencial.
                          Era fácil,  porque tinha meu pai a quem recorrer,  a falar com ele o que se passava comigo.  Incrível como ele percebia de imediato o âmago da questão que eu trazia.
                        Dava-me, com voz serena, o caminho a ser trilhado e, voltando atrás no tempo, não o  vi  errar nenhuma vez.
                       É  certo  que muitas vezes, não querendo enxergar a verdade que ele me mostrava, me rebelava e dizia que não ia seguir a sugestão dele.
                     Meu pai não discutia, ouvia-me e silenciava...
                    Saía da casa dele “fulo” da vida, nervoso, até gritando. E depois de um ou dois dias, estava eu de volta lhe pedindo desculpas, pois o que ele havia falado era a conduta mais acertada a fazer.
                   Não pensem que a vida dele correu serena. De jeito nenhum. Teve muitos desenganos, decepções,   erros circunstanciais, mas que fazia questão de  resgatar  com   juros e correção monetária.. 
                  A capacidade de resignação altiva dele era impressionante. O meu núcleo familiar vingou graças ao exemplo dele. Digo altiva, porque tinha muita dignidade. E sua humildade não era de subserviente, tinha a cabeça em pé e seu olhar penetrante enxergava nossa alma. Era humilde porque sabia que tínhamos que ser assim, diante de nossa ignorância ante uma vida tão misteriosa
               Quando, hoje, eu digo que minha religião é a tolerância, estou repetindo o que ele dizia e  fazia com o exemplo de sua  vida.
              Agora que ele não mais existe, sinto-me órfão de sua sabedoria, do seu exemplo de vida, da sua paciência comigo, dos seus conselhos, da sua inteligência, do seu amor de pai, que jamais me desamparou.
             Não sei se os leitores,  que chegaram até aqui,  notaram que não falei em honestidade, esse lugar comum que todos citam, quando querem mostrar as virtudes de alguém. 
            Não disse, amigos, porque a honestidade do meu pai era tão natural, tão espontânea, tão simples, tão dele, que não havia necessidade de apontar este detalhe.
            Estou aqui falando do pai, por alto. Tinha e tenho  tanta coisa boa a dizer  dele...
           Seguro  minha emoção de filho, de filho que está sentindo muito a falta dele.
          Vou encerrar,  amigos,  mas contando um pequenino fato, que talvez dê uma noção de  quem foi ele.
           Certa ocasião, um colega de trabalho, que  não era amigo, apenas colega, ressaltou a honestidade do  meu pai.  Em um discurso de fim de ano, o colega, Porto Carrero, tio da famosa Tonia Carrero,  se refere ao  meu pai e diz o seguinte:  “ Colegas, quero fazer um destaque.  Há muito venho observando o Moacyr e para mim a grande honestidade dele está estampada nas roupas que ele veste.  Tem os punhos das suas camisas, assim como os colarinhos, gastos pelo uso,   cerzidos por sua esposa.” 
            Meu pai foi Procurador-Geral do antigo IAPETEC e advogado no Rio de Janeiro, advogando na  maioria dos casos de graça. Nunca se interessou por riqueza e não gostava de ostentação. Espantava-me  com a pouca  quantidade de suas roupas de trabalho: dois ternos, seis camisas sociais, seis cuecas, duas  gravatas, meia dúzia de pares de meias e dois pares de  sapatos. 
           Infelizmente, não tenho capacidade para mostrar a grandeza humana de meu pai.
          Posso dizer apenas que ele seguiu fielmente aquele pensamento de  Anatole France:
            “Viva como aconselhas, diga o que fazes, faça o que dizes”.
           Estou sentindo muita falta dele...
 

     
Nota:  Esta crônica é uma republicação. Peço desculpas para quem já leu, mas senti vontade de homenagear meu pai mais uma vez no dia dos pais e passar meus sentimentos  sinceros, mesmo que repetitivos. Incrível, mas não achei um retrato dele, no momento. Assim, coloquei um retrato meu. Sei que ele vai gostar e me "visitar" espiritualmente.   Gdantas