A SABEDORIA DE MEU PAI
J.B.Xavier
Ah! Meu velho pai...hoje te escrevi uma longa carta de amor...uma das tantas que já te escrevi durante a vida...todas cá estão, em minha gaveta, tristes e amareladas...sem terem sido enviadas...
Algumas falam de minhas dúvidas, outras de minhas conquistas, outras ainda de meus amores...
Meu velho e querido pai, lembro de tuas mãos grossas, gretadas pelos calos do trabalho duro...lembro do teu corpo suado, do teu cansaço ao fim do dia, e do teu sorriso triste quando eu, em meus delírios de criança, te pedia algo que não podias me dar...
Meu velho e querido pai...hoje entendo teus longos silêncios, quando compreendias que nenhum dos teus argumentos simples, de um homem do trabalho, poderia convencer a minha sapiência teimosa, adquirida na universidade.
Quanto tempo levei para compreender que eras tu o sábio, e para perceber todas as lições de vida que havia em tua sapiência sem instrução! E quando finalmente compreendi, tuas palavras já eram apenas um eco no meu passado...
Meu velho e querido pai...Lembro do orgulho com que falavas de mim aos teus poucos amigos...do brilho nos teus olhos quando falavas do meu futuro, no sorriso escasso dançando em teus lábios quandodesfrutávamos dos poucos momentos que nos uniram verdadeiramente!
Tenho aqui todas as cartas que te escrevi, e a elas acrescento mais esta, porque haverei de te escrever sempre, enquanto em mim restar um sopro de vida!
Enquanto te orgulhavas de mim, eu me envergonhava de ti, por sequer teres sido capaz de aprender a ler e a escrever! E então jamais ouviste o que te dediquei, porque a instrução superior que tanto trabalhaste para me dar, bloqueou-me a alma e fechou-me o coração, fazendo-me envergonhar por seres apenas um analfabeto... E pensando que nunca lerias as minhas cartas, envergonhado demais para admitir que outros as lessem para ti, jamais as enviei!
Meu velho e querido pai...como poderia eu saber que acariciarias minha caligrafia, extraído-lhes o substrato que transcendem as palavras? Como eu poderia saber que tudo o que desejavas era um pedacinho de mim, junto de ti?
Onde quer que estejas, nessa saudade que o tempo mais aumenta, saibas que mais uma carta está à tua espera...e hoje, que és pura energia no universo, hás de compreender a minha dor, sem precisar lê-las... porque és, nesse meu céu tumultuado, a luz que me guia, meu norte, minha estrela!
J.B.Xavier
Ah! Meu velho pai...hoje te escrevi uma longa carta de amor...uma das tantas que já te escrevi durante a vida...todas cá estão, em minha gaveta, tristes e amareladas...sem terem sido enviadas...
Algumas falam de minhas dúvidas, outras de minhas conquistas, outras ainda de meus amores...
Meu velho e querido pai, lembro de tuas mãos grossas, gretadas pelos calos do trabalho duro...lembro do teu corpo suado, do teu cansaço ao fim do dia, e do teu sorriso triste quando eu, em meus delírios de criança, te pedia algo que não podias me dar...
Meu velho e querido pai...hoje entendo teus longos silêncios, quando compreendias que nenhum dos teus argumentos simples, de um homem do trabalho, poderia convencer a minha sapiência teimosa, adquirida na universidade.
Quanto tempo levei para compreender que eras tu o sábio, e para perceber todas as lições de vida que havia em tua sapiência sem instrução! E quando finalmente compreendi, tuas palavras já eram apenas um eco no meu passado...
Meu velho e querido pai...Lembro do orgulho com que falavas de mim aos teus poucos amigos...do brilho nos teus olhos quando falavas do meu futuro, no sorriso escasso dançando em teus lábios quandodesfrutávamos dos poucos momentos que nos uniram verdadeiramente!
Tenho aqui todas as cartas que te escrevi, e a elas acrescento mais esta, porque haverei de te escrever sempre, enquanto em mim restar um sopro de vida!
Enquanto te orgulhavas de mim, eu me envergonhava de ti, por sequer teres sido capaz de aprender a ler e a escrever! E então jamais ouviste o que te dediquei, porque a instrução superior que tanto trabalhaste para me dar, bloqueou-me a alma e fechou-me o coração, fazendo-me envergonhar por seres apenas um analfabeto... E pensando que nunca lerias as minhas cartas, envergonhado demais para admitir que outros as lessem para ti, jamais as enviei!
Meu velho e querido pai...como poderia eu saber que acariciarias minha caligrafia, extraído-lhes o substrato que transcendem as palavras? Como eu poderia saber que tudo o que desejavas era um pedacinho de mim, junto de ti?
Onde quer que estejas, nessa saudade que o tempo mais aumenta, saibas que mais uma carta está à tua espera...e hoje, que és pura energia no universo, hás de compreender a minha dor, sem precisar lê-las... porque és, nesse meu céu tumultuado, a luz que me guia, meu norte, minha estrela!
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