MÃES E FILHOS
Um dos movimentos que mais me sensibiliza pelo tamanho da emoção que transmite, pelas justificáveis reivindicações e por todo o sentimento verdadeiro impregnado em suas ações, é a organização das Mães da Praça de Maio, na Argentina. São mulheres que se reúnem ainda hoje, às quintas-feiras, em frente a Casa Rosada, e manifestam contra o desaparecimento de seus filhos, pela ditadura militar que prevaleceu de 1976 à 1983.
Alguns pais, considerados subversivos, tiveram seus filhos retirados de sua guarda e colocados para a adoção durante os sete anos de ditadura. Quando acabou a ditadura, muitos filhos estavam sob guarda de famílias de militares. Esse encontro das Mães a procura de seus filhos mantém vivo na memória do povo argentino os excessos da ditadura.
Ao contrário das Madres de Plaza de Mayo, muitas mães viveram e vivem no anonimato apesar da fama de seus filhos. Muitas vezes foram elas que incentivaram, na mais terna infância, aquilo que depois se tornaria em talento, fenômeno e genialidade. Algumas serviram de inspiração e modelo seguido.
Quem teria sido Sra. Sophie Brezing, uma protestante alemã que fez questão de batizar seu filho nesta religião, apesar do catolicismo e autoritarismo de seu marido? E Rosa Bruskin, judia russa que, tendo filho no Brooklyn, Nova Iorque, imigrou logo depois para São Petesburgo, na Rússia? Que mistérios rondam a Sra. Felipa Domenech Ferrés, a maior incentivadora de seu ilustre filho, enquanto o pai era contra as aptidões do jovem? O que notabiliza Beatrice Stone além de pertencer a uma pequena e unida comunidade judaica americana? Que sonhos teria Erenice Carvalho, quando passeava nas terras dos goytacazes entre as usinas de açúcar? Quando que Julia Stanley poderia imaginar que seu filho seria um dois maiores ídolos da humanidade? A doce e resignada mãe da cidade camponesa de Bagdadi, Rússia, de nome Aleksandra Aleksiéievna, a quem teria amamentado?
A identidade dessas mulheres está no DNA de seus filhos, na força de suas obras e faço esse registro para homenagear a todos nós, mães, pais, avós, irmãos, tios que dão, não só o nome, mas a educação e a pavimentação necessária para uma caminhada segura.