PARA MARIA LUZIA LER

E TER UMA BOA NOITE DE SONO

 

25 de novembro de 2007

FORA DO LUGAR
 Vou tentar dizer o sentimento e situação em que me encontro neste dia fora do meu ritmo normal, bem mais nítido o retrato meu, como um limite de limite, causado nem sei por quais motivos; uma ausência de sentido e de compreensão parece que estou fora do lugar.
A Gu me buscou aqui, para esperar o pessoal que iria entregar e instalar o espelho dela. Esse foi o objetivo. Chegaram lá pelas duas ou três horas e instalaram a peça. Fiquei bordando. Era só pra isso, enquanto ela trabalhava e não podia faltar. Ok, pronto, Acabou. Mas fui ficando, Fui tomando conhecimento dos interesses e coisas dela.
E fui ausentando de mim, acho. Sem vontade de nada fazer, de nem pensar, de nada querer, nem desejar. Esqueci até de voltar. Eu parei ali.       Acho que morri espiritualmente ou psicologicamente. Alguma coisa desconhecida minha, ali se apresentou, como um nada, como uma ausência de significado. Ela me trouxe de volta e estou aqui no meu computador tentando me expressar. Estou ausente de mim. Nada significa nada. Não sei dizer de mim. Não sei dizer da Gu. Não sei sentir nem pensar. Não estou sabendo interpretar ou compreender nada.
Talvez nada nos ligue. Eu não encontro eco nas pessoas. No fundo da vida eu, talvez, o que me falta mesmo é a comunicação com as pessoas. As pessoas mais queridas nada me dizem de si mesmas de verdade, elas falam só alguma coisa delas, mas que nada significam nada expressa, de modo que estou sempre afastada delas. Elas gostam de mim, eu também gosto delas, mas elas não me dizem nada delas ou algo que nos interesse a ambas, algo que faça ocorrer um interesse comum, algo a ver ou refletir num mesmo compasso.
Não consigo contato real com a pessoa (filhos). E como sou muito inteligente, reflexiva, criativa, humana, sensitiva, sou mais emoção que razão, em geral muito afetuosa, desprendida, generosa e paciente; aceito o que o outro me retorna, e calo, ou esqueço, e parto pra outra coisa do meu interesse ou para os meus próprios interesses, que são simples e mais para o subjetivo que coisas objetivas. Sou mais filosofia e pensamento com alma e coração. Esse vazio de retorno do outro familiar é frustração quando o outro me significa muito; ou descarto pro esquecimento, quando esse outro nada me significa. A vida vai ficando mais sem graça. A solidão amplia um pouco mais. Eu me preencho comigo mesma, em geral. Mas hoje eu não estou conseguindo. Nem retornar ao normal de mim mesma.       
 Em relação aos meus colegas da ENE que mandam (= repassam) vídeos pra mim, eu vou dar uma olhada daqui a pouco e vou apagar tudo, limpar meu computador, que só tem verdade ou reflexão consistente, tudo é expressão verdadeira. Até nos meus desenhos ou pesquisas, ou fuçação nos meandros desconhecidos do computador, sempre é uma investida de interesse verdadeiro.  
Acho que não fiz isso até agora, pra não sentir meus e-mails vazios, para me iludir e não pensar ou sentir solidão.
Bobagem é melhor a realidade, não deixar que ilusões me perturbem e me afastem da realidade em que vivo. Estou me sentindo melhor. Já to mais normal e tranquila, e já são 4,30hs da madrugada.
“Bem melhor, voltei ao eixo”.
 E agora vou dormir; acabar de desligar a TV onde vi ambientalistas na região centro-norte do Brasil, em preservação da flora e cenas maravilhosas com bichos lindos, que nos enche o coração de beleza e amor, coisa diferente do que está ocorrendo com o desmatamento desvairado e incontrolado da Amazônia e que é pura dor e apreensão. A cena final dos ambientalistas me deslocou a pensamentos fundos. Eles encontram uma região com samambaias gigantes petrificadas que teriam uma altura de árvore, e que existiram naquele lugar a mais de 200.000 anos. O tronco caído no solo se petrificou e virou uma coisa linda, uma pedra de árvore, ou uma árvore de pedra. De uma beleza incrível e que foi muito procurada e vendida ou cedida aos mais antigos que ali vinham anos a trás em busca delas. Segundo o morador local e guia, informou que agora isto não ocorre mais depois de ter entendido do que se tratava. Esta imagem foi um belo fechamento da matéria.
Perturbou-me mais quando a ambientalista informa que na época destas plantas vivas e em abundância, tudo foi extinto em torno de 92% da vida da época. Imaginei a transformação sofrida naquele ponto do Brasil: UMA DOR pensar. E mais que daqui aos próximos 200.000 anos tudo que preservamos, amamos e por elas lutamos já não existirão mais e a fauna e a flora será nova criação que nunca conheceremos também. UM IMPACTO tal pensamento. Mexe com a gente, e não sabemos o quanto. Em 11/06/2011.
.Revisando este escrito em sábado, 29 de março de 2008 eu o senti incompleto. Acho que estou melhorando muito no escrever.  Não é só o escrever, ao mesmo tempo, acontece à vida correndo no corpo e na alma, tem algo mais que acontece com o escritor, que eu poderia chamar de ritmo ou cadência de emoção estética. Como o perfume da flor fresca que se espraia no seu redor, e ela não pode impedir isso ocorrer, pois é dela esta verdade. Se ela não permitisse fluir o seu perfume para o exterior de si mesma, ela estaria ferindo a si mesma. Uma autoagressão.
Acordei depois de dormir a tarde inteira e com sonhos já meio esquecidos, sonho do tipo que se sente, mais do que fatos, e acho que era em relação a um receio de eu ser demais para a Gu ou a Niéde, coisa que ainda não posso afirmar. É mais o temor vago da rejeição.  É coisa desprezível, pois é só resultado de marcas passadas que nem existem mais, a não ser no misterioso composto do psicológico.
Fui até a janela, um céu azul claro, por trás do escuro das árvores da Rua Taylor tomou conta do olhar. De claro e luminoso foi passando a uma nuance mais escura e mais viva até ao alto do céu, e se tornando de um azul escuro, mas ainda, mais azul e vibrante, com nuvens em cúmulos de branco também iluminados.
Pareceu um quadro, uma visão. Voltei aqui ao texto. Aquilo não foi atoa. Expressa exatamente o que eu falava ou tentava explicar a mim mesma. Voltei pro meu lugar. Não estou mais fora do lugar.      
Isto não é uma crônica.
Se fosse teria o título: FORA DO LUGAR
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Palavras: 886                                                                                                                                                                                                                                      
 
Lu encontrei este texto que foi um dos meus primeiros escritos aqui no Recanto e me lembrei de que talvez lhe dê sono bom nesta noite. Com carinho,
MLUIZA,em 9/08/2012