Molhando a horta...
É tardinha, sol se pondo.
Eu no quintal, pés descalços, bermuda, agachado, como o meu
pai ficava, direcionando a mangueira, molhando a horta.
Diabo de capim-cebolinha que insiste em morar nos canteiros.
Que galinha danada, achou um buraco na cerca, e tá bicando as
mudas de alface. Deve ser vingança, afinal catei os ovos, lá no
galinheiro, agorinha mesmo... Vai, corre Patrão, e late pra ela.
Eu acho que o esterco já curou, depois, vou olhar.
Que beleza, o jiló deu sinal de vida...
Quem deixou o ancinho virado pra cima?
Preciso passar graxa na roda do carrinho-de-mão.
Engraçado, cadê o mamão ... tava quase maduro, será?
Êta horta bonita, tá que dá gosto...
Ah, as rolinhas, gulosas, insaciáveis, mal educadas...
A mangueira já tá apinhada de passarinho....
Que barulhada.
Para de correr atrás do Rei, Patrão, ele ainda vai unhar feio
você. E cuidado, vocês dois. com os canteiros...
É, escureceu. Inda bem que acabei, graças a Deus.
Vai ser uma noite fria.
Tomara que tenha sopa, hoje...