Quem é doente?
Era perto de nove horas e, embora ao Sol, o frio parecia cortar a pele; eu caminhava encolhido, mesmo bem enroupado.
Do outro lado da calçada, à sombra, algo me chamou a atenção.
Um momento de reflexão, e uma pontinha de dor.
Sentado e semi-enrolado num velho cobertor, um morador de rua, fixo do local e tido como doente mental, tinha em mãos um pão e um copo com café.
Creio ser uma cortesia diária do comerciante que, sem a “obrigação ou responsabilidade” oferece a esse inquilino do acaso, o mínimo para sua sobrevivência.
E seu ato é louvável.
O ponto forte se dá quando esse mesmo morador, o tal demente, com um sorriso no rosto levanta o copo de café fumaçando, num gesto reconhecido como oferecimento.
Aí eu olho e vejo a uns dez metros dele, um outro, talvez ocasional hóspede por uma noite descobrir-se de seus panos de dormir, descalço e tremendo muito aproximar-se e beber do líquido oferecido.
Num primeiro momento me emocionei... depois senti vergonha de mim, de meus atos, ou da falta deles.
Tudo muito simples... assim como é a vida.
E prossegui meu caminho.
Sem ter o que dizer, mas sabendo que fazer.