Peludos do mundo, uni-vos! Manifesto em defesa dos peitos cabeludos

Tão anunciando por aí uma tal de depilação masculina. E ainda mandam anúncios dessa pouca vergonha por email. Quanto atrevimento! Até tolero os “aumente seu pênis em 5cm” entupindo minha caixa de entrada, mas me convidar pra participar dessa suruba da calvice peitoral já é demais; foi direto pra lixeira.

E pensar que o meu caso é apenas mais um dentre os milhares de constrangimentos que não são registrados diariamente aos peludos. Xenofobia contra gente da própria pátria. É um ódio alimentado pela mídia contra os cabelos peitorais. Uma verdadeira cruzada contra os pelos, esses infiéis. E a culpa é da tevê, da G Magazine, dos políticos incompetentes ou da bunda flácida da Brigite Bardot?

O problema é maior que o bingulin dos haitiano. Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Hetero confirmou que 62% dos brasileiros entre 16 e 25 anos se considera metrossexual. Destes, mais da metade afirmou usar métodos para deixar o peito lisinho. E esse holocausto não acontece só nos centros estéticos especializados, os Auscwitz dos pelos. Em casa mesmo os cabelos estão sendo fadados ao fundo do ralo, literalmente. Como? Com cera, barbeador, Gilette ou o Depil Fresh Spray da Polishop.

Acompanhei pela internéte um pouco dos debates da III Conferência Internacional dos Eslavos Vilosos, realizada em Vitsyebsk, na Bielorrúsia. Vi mais as discussões da plenária entre o grupo mais radical, que planejava um atentado ao Dr. Ray alegando ser ele o pai de todo mal que sofrem, e os conservadores que defendiam estratégias menos extremistas, como campanhas em horários nobres na tevê e distribuição de cartilhas nas escolas primárias. Fato é que há anos, nós, os peludos somos silenciados pela imposição dos métodos de depilação.

Talvez os caras de peito liso estejam certos; eu seja o errado. É que tenho uma baita dificuldade em me adaptar às transformações do mundo. Nesse vai-e-vem das relações sociais (em todas as posições possíveis; de frente, de ladinho, por trás...), eu sou o cara que pagou bebida na festa, mas terminou a noite sem comer ninguém. A censura depilada que não saiba, mas tenho ainda, num compartimento secreto do guarda-roupa, a Playboy da Cláudia Ohana. Ah, bons – e cabeludos – tempos em que uma mulher honrada visitava o salão uma vez por semana e não era pra cuidar do penteado de cima.

Mas por maior que seja a repressão – psicológica ou física – nós, os peludos, continuaremos contrariando essas convenções culturais. Andaremos por aí com nossas camisas gola V exibindo nosso maior orgulho: nossos peitos cabeludos (apesar de pouco atraentes). Que nossos pelos sejam o símbolo de nossa luta.

Peludos de todo o mundo, uni-vos!